Em uma iniciativa conjunta com a UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), a Prefeitura do Recife lançou nesta terça-feira (19/08) um programa que concede a moradores de rua bolsas de estudo (no valor de R$ 200 a R$ 600) e cursos de alfabetização, letramento e qualificação profissional. Cada participante receberá kits com mochila, caderno, caneta, garrafa, boné e fardamento.
Intitulado Pão e Letra, o programa é inédito no país, segundo a Prefeitura. Quem está à frente da sua execução, na gestão municipal, é a Secretaria de Assistência Social e Combate à Fome. O lançamento ocorreu no Compaz Escritor Ariano Suassuna (bairro do Cordeiro), no Dia Nacional da Luta da População em Situação de Rua.
“É um dia muito especial pra gente. Neste dia damos um novo significado ao 19 de agosto, com respeito, compaixão e cuidado. O Recife está fazendo algo inédito: chamar uma universidade pública federal e contratá-la para que possamos, em parceria, realizar uma formação de letramento para pessoas em situação de rua”, afirmou o prefeito João Campos. “Estamos começando a pensar longe, e com o básico, que é a alfabetização, o início do letramento. Sabemos que muitas vezes o caminho é muito difícil, mas quero pedir a vocês que não desistam. O Recife acredita em vocês, contem com a gente”, completou ele, dirigindo-se a 30 inscritos que participaram da aula inaugural, no lançamento.
As bolsas são em quatro modalidades: “Iniciante”, destinada a quem está ingressando na escolarização e participa das atividades educativas iniciais, no valor de R$ 200; “Estudante”, voltada a educandos já encaminhados à Educação de Jovens e Adultos (EJA) e acompanhados por tutoria, no valor de R$ 300; “Multiplicador”, direcionada a quem concluiu os estudos e atua na mobilização social do programa, com auxílio de R$ 600; e “Qualificação Profissional”, voltada a alunos matriculados em cursos de capacitação com duração superior a um mês, em que o período da bolsa varia conforme a duração do curso, no valor de R$ 300. As três primeiras têm duração de seis meses, e as turmas de “Iniciante” darão continuidade nos Centros Pop Glória e Neuza Gomes, em grupos de até 15 alunos.
As bolsas vão garantir aos alunos não apenas o acesso, mas a permanência no processo formativo, destacou a secretária de Assistência Social, Pâmela Alves. “Nosso compromisso é assegurar que essas pessoas tenham condições reais de reconstruir seus projetos de vida com dignidade e cidadania”, disse ela.
Francesco Caetano, 40 anos, morador em situação de rua, está há mais de 26 anos sem estudar e contou a alegria de ter uma oportunidade de voltar às salas de aula. “Estou me sentindo privilegiado de saber que tenho uma nova chance de ser alguém na vida. Nosso futuro depende do estudo. Para ter uma profissão melhor e mais adequada, estou muito feliz com esse novo capítulo da minha vida”, afirmou ele.
O evento contou com a presença também do vice-prefeito, Victor Marques (PCdoB), do coordenador do programa na UFRPE, Otávio Augusto, e do coordenador estadual do Movimento Nacional da População de Rua, Jailson dos Santos.
COMO FUNCIONA O PROGRAMA
A execução do programa envolve diferentes frentes. A Secretaria de Assistência Social e Combate à Fome é responsável pela concessão das bolsas e pela mobilização dos participantes, enquanto a UFRPE contribui com a qualidade da formação, por meio do Programa de Educação Tutorial (PET), no eixo Letramento, e do Grupo de Pesquisa em Educação, Linguagens e Práticas Pedagógicas, que apoiaram a construção metodológica e a formação dos educandos. A primeira fase do programa recebe investimento de cerca de R$ 306 mil.
CENSO
De acordo com o Censo da População em Situação de Rua do Recife, 22% das pessoas nessa condição não sabem ler e escrever, e apenas 15% concluíram o Ensino Médio. Além disso, 48% não possuem ocupação laboral, sendo que 37% estão sem trabalho há mais de 10 anos.