Ao participar de seminário do Esfera Brasil no Recife, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), disse que os sinais dados pelos Estados Unidos são de que não desejam negociar o tarifaço. “Eu não vejo muito interesse por parte dos Estados Unidos em querer negociar. Quem conhece governo, sabe: não tem interlocutor, é o 4º, 5º escalão falando, pingando de um para o outro”, afirmou ele.
O prefeito defendeu que “o Brasil precisa buscar a porta de saída desta sala”, e fazer isso mantendo a posição de que “a nossa soberania é inegociável”, mas também levando em consideração que do outro lado está um “parceiro comercial de mais de 200 anos”.
“A gente não pode ter uma condução desequilibrada nem uma condução subserviente. Tem que ser equilibrada com altivez”, ponderou ele.
Para o prefeito, o tarifaço coloca o Brasil na rota de outras potências, como a China (ele não citou o país): “É inegável que o movimento que foi feito coloca o Brasil mais perto de outras potências globais, e outras potências globais vão se aproximar mais [do Brasil]”.
Ele disse ainda que a solução do impasse pode sair “do próprio interesse comercial bilateral”, dos empresários, com ações na Justiça americana, que lhe parece “mais factível” que por meio de um “tratado político”.
João Campos fez as declarações durante o painel “Soluções locais para desafios nacionais”, que contou com a participação dos deputados federais Mendonça Filho (União/PE) e Augusto Coutinho (Republicanos/PE) e do cientista político Antônio Lavareda, com mediação do jornalista William Waack.
No painel, o deputado Mendonça Filho também foi enfático sobre a preservação dos interesses do Brasil, porém criticou o posicionamento do presidente Lula na crise. “Eu sou um deputado de oposição, sempre fui antagonista aos governos petistas, mas quando você está diante de um quadro como esse, o primeiro posicionamento que me coloco é o de defesa dos interesses do Brasil. A gente precisa ter unidade de postura defendendo o interesse nacional”, disse ele. “Temos uma postura do governo americano que é inédita, esquisita, bizarra, e de outra parte percebo que, enquanto o governo nomeia o vice-presidente Alckmin e outras autoridades como interlocutores, para que possam buscar canais com governo americano, ao mesmo tempo o presidente Lula cumpre papel mais de palanque do que de busca de canal de negociação. Ele potencializa a crise”, completou o deputado.
O seminário do Esfera Brasil aconteceu neste sábado (09/08), no Recife, sendo o primeiro realizado pelo grupo no Nordeste. Foram quatro painéis de debate, com a participação dos ministros Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), Jáder Barbalho Filho (Cidades) e Vinícius de Carvalho Controladoria-Geral da União (CGU), e as governadoras Raquel Lyra (PSD), de Pernambuco, e Fátima Bezerra (PT), do Rio Grande do Norte, entre outras autoridades e empresários. A pauta foi a infraestrutura da Região – investimentos, políticas públicas para o desenvolvimento regional e soluções para problemas de logística. Os impactos do tarifaço concentraram boa parte das discussões.
Vídeo com a íntegra dos debates do Esfera Brasil no Recife: trecho de João Campos, citado na matéria, está a partir de 2:12 20, e o de Mendonça Filho, 2:20 14
GOVERNADORAS
No painel intitulado “Potência Nordeste”, as governadoras Raquel Lyra e Fátima Bezerra detalharam as ações que vêm empreendendo contra os impactos do tarifaço e os investimentos realizados para o desenvolvimento em seus estados. “Temos dois pontos importantes, que é a questão da distribuição do açúcar e da manga, ambos com janela aberta para exportação. São 120 mil empregos diretos gerados a partir da fruticultura irrigada, por exemplo”, afirmou Raquel Lyra. “Estamos trabalhando muito, junto com o governo federal, acreditando na força do diálogo para que essa safra não se perca e os empregos sejam mantidos na ponta, quer com subvenção, quer com novas oportunidades de mercado. É nosso compromisso com o setor produtivo e é nosso compromisso com os trabalhadores da agricultura de Pernambuco”, concluiu.
Já a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, pontuou investimentos feitos em projetos de energias renováveis, como o do Porto-Indústria Verde, que será construído no litoral norte do estado. “É uma obra importantíssima para todo o Nordeste. Vai permitir a exploração dos parques eólicos offshore e do hidrogênio verde. E, semana passada, demos um passo muito importante para isso, com o início do processo de escolha da empresa que fará o projeto executivo. O processo será feito pelo BNDES”, disse ela, acrescentando que a Região é “a ponta de lança da descarbonização da economia brasileira”, concentrando 93% da energia eólica instalada no país. “O Nordeste deixou de ser visto como problema para se tornar solução”, salientou.
