Em situação desfavorável nas pesquisas, com uma relação tensa com a Assembleia Legislativa e à frente de um governo que ainda não consolidou uma marca para a gestão, a governadora Raquel Lyra (PSD) corre contra o tempo para tentar o segundo mandato. Por enquanto, seu provável opositor, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), aparece com ampla vantagem nos levantamentos
O cenário para Raquel Lyra, neste abril de 2025, apresenta-se assim:
PONTOS FAVORÁVEIS (“favorável” no sentido de que “favorece” a candidatura)
- Maioria de prefeitos na Região Metropolitana do Recife, onde estão cerca de 42% do eleitorado do Estado. Dos 14 municípios que a compõem, candidatos apoiados por Raquel Lyra venceram as eleições municipais em 8, entre os quais Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Paulista, maiores colégios eleitorais depois do Recife. O número pode subir para 9, com a eventual inclusão do prefeito de Camaragibe, Diego Cabral (Republicanos). Ele tem elogiado o tratamento de Raquel para Camaragibe e diz que segue a orientação do ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos) – quem o ministro apoiar, ele também o fará. Silvio acalenta o desejo de disputar o Senado.
- Inclusão na base de apoio do governo Lula via o PSD, partido ao qual ela se filiou em março passado, sendo prestigiada pelo presidente da legenda, Gilberto Kassab, e pelo ministro André de Paula (Pesca e Aquicultura). Com o movimento, Raquel viabiliza portas abertas do governo federal para investimentos no Estado, cria a possibilidade de concorrer com o apoio de Lula em 2026 e nutre a esperança de não perder de todo o eleitorado mais ao centro e à direita que votou em sua candidatura em 2022.
- Raquel deve disputar a eleição mantendo-se no cargo de governadora (a legislação não a obriga a desincompatibilizar-se). Ainda há “entregas” (obras) a ser feita.
- Deve ter um novo nome como vice, criando a possibilidade de ampliação de alianças. A suposição decorre do fato de que como Priscila Krause também filiou-se ao PSD, não faz sentido ter uma chapa em que a governadora e a vice sejam do mesmo partido. Priscila, assim como Raquel, não precisa desincompatibilizar-se. Pode disputar até um mandato de deputada sem deixar o cargo de vice.
- Maioria de prefeitos no Estado
- Ação para fortalecimento da base de políticos municipais (nomeou 50 deles para cargos comissionados da Secretaria da Casa Civil. São ex-prefeitos, ex-vices, ex-vereadores, ex-candidatos derrotados) e nomeação de indicados políticos para algumas secretarias.
PONTOS DESFAVORÁVEIS
- Com quase dois anos e meio de administração, Raquel Lyra não conseguiu até agora consolidar uma marca para o seu governo. Algo positivo, capaz de fazer com que as pessoas se sintam desejosas de que o governo tenha continuidade.
- Secretaria de Educação: Há queixas sobre o programa Ganhe o Mundo, merenda, fardamento, kit escolar, climatização das salas…Nos governos do PSB, desde os mandatos de Eduardo Campos, Educação sempre foi uma das principais vitrines. A pasta está hoje sob o comando do terceiro secretário. O anterior, Alexandre Schneider, trazido de São Paulo, ficou apenas seis meses no cargo. O problema tem tudo para tornar-se um incômodo eleitoral de peso, com amplitude geográfica (alcance da rede pública estadual), enfoque social (estudantes são de famílias pobres) e impacto sobre redes sociais (com postagens dos alunos sobre o assunto, o que já está acontecendo).
- O governo perdeu o PSDB, partido pelo qual Raquel disputou a eleição de 2022. Ela filiou-se ao PSD e contava manter sua antiga legenda na base governista. Mas a executiva nacional do PSDB interveio na direção estadual e nomeou como interventor Álvaro Porto, presidente da Assembleia Legislativa. Embora os 32 prefeitos eleitos pelo PSDB tenham logo em seguida se filiado ao PSD, a intervenção representa uma perda para a governadora. Trata-se de um partido a menos na base, com tudo que isso representa (como tempo no horário partidário e eleitoral e os recursos do fundo partidário – são R$ 147 milhões que cabem ao PSDB nacional).
- A governadora iniciou seu mandato tentando imprimir um perfil técnico, de eficácia administrativa, independente. Na metade do governo, a canetada para a Casa Civil mostra que este perfil perdeu o protagonismo.
- Em relação ao que houve no segundo turno de 2022, Raquel não contará com um dos seus dois aliados de maior peso: Miguel Coelho, ex-prefeito de Petrolina (o outro aliado de peso foi Anderson Ferreira, presidente estadual do PL, que continua no palanque da governadora. Miguel Coelho agora é aliado de João Campos).
- Relação tumultuada com a Assembleia Legislativa, cujo presidente (reeleito para o período 2025-2026), Álvaro Porto, é seu adversário.
- Os números das pesquisas. A da Genial/Quaest, divulgada em 27 de fevereiro passado, lhe colocou com 28%, contra 56% de João Campos. Já a da Real Time/Big Data, de 10 abril, deu 67% para João Campos e 22% para a governadora. Faça-se a ressalva de que ainda falta um ano e meio para a eleição. Na disputa presidencial passada, conjecturas alimentadas pelas pesquisas vislumbravam a vitória de Lula já no primeiro turno. O final a gente sabe como foi.