Os números do Nordeste no quesito violência são, com licença da palavra, medonhos. A medonhice chama mais atenção porque nas duas últimas décadas a região tem sido terra de boas notícias, com uma série de resultados positivos em indicadores de educação, inovação, economia, agricultura, melhoria de níveis de renda e de pobreza…
Mas, quando se fala em violência, o pior cenário está aqui. Curioso notar que os três estados que lideram a transformação positiva do Nordeste – Bahia, Pernambuco e Ceará – são exatamente os três mais violentos da região. Os 9 estados nordestinos têm uma taxa superior à média do Brasil.
Os dados são do Atlas da Violência 2025, trabalho conjunto do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), divulgado esta semana. Publicado anualmente desde 2016, o estudo é a principal referência do setor no país.
A taxa medida pelo Atlas é a do número de homicídios por 100 mil habitantes, índice utilizado mundialmente.
MUNICÍPIOS
Quando se faz o recorte das capitais, a situação é pior ainda. A adorável Salvador, terra de tantas atrações culturais, artísticas e turísticas, está em primeiro lugar entre as dez mais violentas do Brasil. E com mais de dez pontos de diferença em relação ao 2º lugar, Macapá (AP). Impressionante.
No ranking, nada menos que 6 (seis!) capitais são do Nordeste, mostra o Retrato dos Municípios Brasileiros, do Atlas 2024. Além de Salvador, como a “campeã”, estão na lista Fortaleza (em 5º lugar), Recife (6º), Aracaju (7º), Maceió (8º) e Teresina (9º).
CAUSAS
Segundo os estudos do Ipea citados, o de 2025 e o de 2024, duas das principais causas desses números escandalosos do Nordeste são o crescimento das facções criminosas e o domínio de rotas de tráfico de drogas na região. No caso específico de Salvador e da Bahia, os problemas seriam resultado de um conjunto de erros nas últimas décadas.
CONSEQUÊNCIAS
Nas capitais e nos estados da região há uma predominância de forças de centro-esquerda – que são agora desafiadas a encontrar uma resposta concreta para um problema que se agigantou, levando a sensação de insegurança para toda a população.
Neste novo cenário há que se levar em conta ainda que, hoje, as informações sobre o assunto chegam à população de forma bem mais massiva e detalhada do que antes – por redes sociais, aplicativos e sites, com profusão de vídeos capturados por câmeras nas ruas ou em estabelecimentos, e pelo noticiário de TV. Aqui, um detalhe importante: na maioria dos estados, os programas policiais tornaram-se o carro-chefe do jornalismo das emissoras de TV, replicando programas da rede nacional. Têm mais tempo de duração e estão presentes em maior quantidade na grade da programação.
O efeito eleitoral do fenômeno é o crescimento de candidaturas originadas desses programas, nas eleições municipais e estaduais.
Pesquisa da Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social identificou na eleição municipal de 2024 um total de 66 candidaturas, das quais 51 eram de apresentadores e repórteres concorrendo para prefeito ou vereador e 8 de agentes de segurança pública que apareciam com regularidade nas notícias. Atenção: isso em todo o Brasil. O único estado sem esse perfil de candidatura foi o Rio Grande do Sul.
Nas eleições estaduais de 2018, foram 23 candidaturas em 10 estados. Em 2022 estes números saltaram para 43 candidaturas, em 14 estados (cinco do Nordeste; quatro do Sudeste; três do Norte; um do Centro-Oeste e um do Sul) e Brasília. Foram 27 para deputado estadual, 11 para deputado federal, 4 para governador e uma para o Senado. Estes programas se configuram “instrumento de propaganda eleitoral antecipada”, diz a Intervozes.