Poucas horas depois da notícia de que a deputada Melissa Hortman, do Partido Democrata do Minnesota (EUA), fora assassinada, dois influenciadores digitais da direita radical postaram informações falsas sobre a vítima e sobre o governador do estado, Tim Walz, também Democrata e que foi candidato a vice de Kamala Harris, adversária de Trump na eleição presidencial do ano passado. O tom da desinformação foi o mesmo que a gente conhece no Brasil: insinuações e perguntas no estilo “teoria da conspiração”, municiando seguidores com uma narrativa que tenta inverter o que realmente aconteceu.
“[O governador] Tim Walz a executou para passar uma mensagem?”, pergunta um dos influenciadores, acrescentando: “O candidato a vice-presidente pelo Partido Democrata está diretamente ligado a um terrorista doméstico, isso está confirmado”. Depois, sentencia: “O FBI deve prender Tim Walz imediatamente.”
As postagens dos dois influenciadores, que têm milhões de seguidores, foram amplamente compartilhadas no país, iniciando uma onda de desinformação – na qual aparece um terceiro influencer, com mais de 600 mil seguidores, ampliando as acusações: “Dizem que ela [a deputada assassinada] estava se preparando para mudar de partido. Os Democratas são ESCÓRIA VIOLENTA”.
O tom, o emprego do “dizem” (que permite dar sentido a qualquer aberração), as palavras agressivas em maiúsculas, a teoria da conspiração – tudo isso não nos soa familiar?…
Evito aqui dar os nomes dos influenciadores, mas o editor-chefe do Minnesota Reformer, J. Patrick Coolican, menciona todos eles, em artigo no qual desmonta cada uma das desinformações postadas.
Coolican cita ainda declaração de Elon Musk, de que “a extrema esquerda é terrivelmente violenta” – escrita por ele, Musk, ao republicar postagem de um perfil que atribui à esquerda assassinatos recentes, como o da deputada.
“Influenciadores de direita mancharam a morte de Hortman e difamaram Walz com uma pilha de mentiras”, conclui o editor-chefe J. Patrick Coolican. “Em um mundo diferente e mais sensato, eles seriam humilhados e se esgueirariam. Mas a aposta certa é que, no próximo momento de crise e luto nacional, eles voltarão a mentir para lucrar.”
ATIRADOR PRESO: ELEITOR DE TRUMP E CONTRA O ABORTO
Segundo reportagem do Minessota Reformer, o suspeito preso, Vance Boelter, de 57 anos, “votou no presidente Donald Trump e se opõe ao aborto e aos direitos LGBTQIA+, de acordo com entrevistas com seu amigo de infância e vídeos de seus sermões publicados online”. A lista de alvos dele incluía políticos democratas e profissionais favoráveis ao aborto.
“O ataque, que chocou a população de Minnesota e os Estados Unidos”, diz o jornal, “ocorre em meio ao aumento da violência política desde a ascensão do presidente Donald Trump, que fez repetidas ameaças de violência contra seus inimigos políticos e elogiou seus apoiadores que, por exemplo, atacaram policiais durante a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Posteriormente, Trump perdoou todos eles.”
CRIMES
A deputada Melissa Hortman e o marido, Mark Hortman, foram mortos em casa, na madrugada de sábado (14/06).
Poucos antes, em outra cidade, o atirador havia baleado com vários disparos o senador John Hoffman (Democrata) e a mulher dele. O casal sobreviveu.
Vance Boelter esteve ainda na casa de quatro deputados democratas, “com intenção de matar”, informou o procurador à frente do caso, segundo informações do Minnesota Star Tribune, outro jornal local.
“O discurso pacífico é a base da nossa democracia. Não resolvemos nossas diferenças com violência ou à base de armas”, afirmou o governador Walz em pronunciamento sobre o caso.
