Da mesma forma que fez com o partido de centro-esquerda do Canadá, que estava 25 pontos atrás do Partido Conservador e acabou ganhando as eleições de abril passado, depois de o presidente americano anunciar que gostaria de ter o Canadá como o 51º estado dos EUA.
Caso a situação se prolongue, a ação do presidente americano – impondo tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros, e criticando o que chamou de “ataques insidiosos do Brasil às eleições livres” – pode atingir profundamente o sentimento nacional brasileiro e gerar antipatia contra os que defendem Trump.
Com impacto principalmente sobre a zona cinzenta eleitoral que não é lulista nem bolsonarista – e até mesmo sobre bolsonaristas, dado o impacto econômico da taxação sobre as empresas brasileiras. Olha o que disse à CNN o deputado bolsonarista Ricardo Salles (Novo-SP), ligado ao agronegócio: “Lula e o PT estão quebrando o Brasil, de novo. Mas isso não justifica o equívoco das medidas protecionistas de Trump, que prejudicarão a todos, não apenas o Brasil, mas os próprios americanos no médio prazo”.
À noite, nesta quarta-feira (09/07), após cerca de duas horas de reunião de emergência com ministros, o presidente Lula afirmou que “o Brasil não aceitará ser tutelado por ninguém” e que a elevação da tarifa será respondida “à luz da lei brasileira de Reciprocidade Econômica”.
Veja a íntegra do posicionamento de Lula:
“Tendo em vista a manifestação pública do presidente norte-americano Donald Trump apresentada em uma rede social, na tarde desta quarta (9), é importante ressaltar:
O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém.
O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais.
No contexto das plataformas digitais, a sociedade brasileira rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes, discursos contra os direitos humanos e a liberdade democrática.
No Brasil, liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas. Para operar em nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras estão submetidas à legislação brasileira.
É falsa a informação, no caso da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, sobre o alegado déficit norte-americano. As estatísticas do próprio governo dos Estados Unidos comprovam um superávit desse país no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem de 410 bilhões de dólares ao longo dos últimos 15 anos.
Neste sentido, qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica.
A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo.”