Olha, quantas camadas de desigualdade social um governo ultrapassa quando dá a oportunidade de alunos de famílias pobres fazerem intercâmbio em países como os Estados Unidos, Inglaterra e Canadá, algo antes possível apenas para estudantes de classe média e rica? O Recife está embarcando 100 estudantes da rede pública municipal para esses três países. O primeiro grupo viajou no dia 30/06, para o Canadá. O segundo, nesta sexta-feira (04/07), para os Estados Unidos. E o terceiro embarca no próximo dia 12, para a Inglaterra. Os 100 compõem a segunda turma do programa Recife no Mundo, criado pela prefeitura em 2023 (a primeira turma viajou em 2024). A iniciativa contempla também professores: 10 deles seguiram na sexta-feira para Carbondale, no estado do Illinois, nos EUA. “Recife é a primeira cidade do Brasil a ter um programa de intercâmbio para jovens do ensino fundamental, e estamos indo para o segundo ano consecutivo”, disse o prefeito João Campos (PSB).

A inovação começou no estado de Pernambuco. Por meio da Lei Nª 14.512, de 7 de dezembro de 2011, o então governador Eduardo Campos (pai de João Campos) criou o programa Ganhe o Mundo, destinado a alunos do Ensino Médio da rede pública estadual. “A proposta é sem precedentes não apenas no Brasil, mas no mundo”, afirmou, na época, o secretário estadual de Educação, Anderson Gomes.
O Ganhe O Mundo foi mantido pelo sucessor de Eduardo, Paulo Câmara, também do PSB, e pela atual governadora, Raquel Lyra (PSD), adversária do PSB. Inspirados pela iniciativa pernambucana, pelo menos quatro estados criaram ação semelhante: Ceará, Paraná, São Paulo e Sergipe.

Em relação aos programas do Recife e de Pernambuco, há algumas diferenças: o do Recife é voltado exclusivamente para alunos dos Anos Finais (8º e 9º) do Fundamental, dura um mês (no período das férias escolares) e os países são de língua inglesa; o de Pernambuco, que se destina aos estudantes do Ensino Médio, tem duração de um semestre e os países são de língua inglesa e espanhola. Nos dois casos, os escolhidos passam por etapas seletivas, e têm direito a seguro saúde internacional, hospedagem, alimentação e uma bolsa para as despesas no país. Para a viagem, todos recebem uniforme, mala e mochila.
CAMADAS DA DESIGUALDADE
O intercâmbio é uma experiência educacional que enriquece o currículo do aluno, o coloca diante de novas experiências e culturas, amplia os seus contatos e pode ajudá-lo e estimulá-lo a buscar melhores universidades e empregos – ou seja, um conjunto de instrumentos que se tornam aliados na luta para quebrar ciclos de pobreza.