Política e economia de Pernambuco e do Nordeste

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Oliveira de Panelas, o "Pavarotti dos Sertões" (Reprodução do Instagram do artista)

“Pavarotti dos Sertões” recebe título de Doutor Honoris Causa da UFPB

O poeta repentista, violeiro, cordelista e cantador nordestino conhecido como “Pavarotti dos Sertões” vai virar doutor daqui a pouco, às 18h desta segunda-feira (09/06), em solenidade aberta ao público no auditório da Reitoria da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), em João Pessoa. Para quem ainda não identificou o artista, trata-se de Oliveira de Panelas. Ele receberá o título de Doutor Honoris Causa que lhe foi concedido pela universidade. 

Muitos atribuem o nome “Pavarotti dos Sertões” a Ariano Suassuna, de cujas aulas-espetáculo Oliveira costumava participar. Mas não é bem assim – Ariano, na verdade, não concordava com a denominação. “Eu sou mais Oliveira”, dizia. 

Quem batizou oficialmente o nosso repentista foi um jornal paulista, o Jornal da Tarde (JT), na edição de 15 de julho de 1997, com a matéria intitulada “ ‘Pavarotti dos Sertões’, o maior repentista do universo”. O texto informava que ele fora “o grande vencedor do 1º Campeonato Brasileiro de Poetas Repentistas”, encerrado dois dias antes no Memorial da América Latina, na cidade de São Paulo. O jornal definia o vozeirão imponente de Oliveira como “voz de tenor”, daí a alusão ao “Pavarotti dos Sertões”. O nome pegou e está aí até hoje.

O Campeonato Brasileiro de Poetas Repentistas obteve grande repercussão jornalística, com matérias de Xico Sá, na Folha de S. Paulo (26/04/1997), dizendo que “o repente, uma espécie de rap com sotaque ibérico e sertanejo, deixa a caatinga e vive o seu renascimento em São Paulo”, do Jornal da Tarde e de veículos internacionais, como a rede de TV ABC e o jornal The Guardian, da Inglaterra. Para a repórter Candace Piette, do Guardian,  o repente era “uma forma moderna de trovador”.

HOMENAGEM 

Panelas é um município de Pernambuco, a cerca de 180 km do Recife. Oliveira nasceu lá, na zona rural, em 1946, como Oliveira Francisco de Melo. Saiu jovem para correr o mundo e, desde 1976, mora em João Pessoa.

Carrega no nome a cidade onde nasceu, mas a Paraíba o acolheu com admiração e respeito, tornando-o paraibano por força da lei – Oliveira tem o título de cidadão paraibano e o de cidadão pessoense. 

Com 60 anos de carreira, ele tem 38 discos (LPs e CDs) gravados individualmente ou em dupla, 18 livros publicados e participação em cerca de 300 festivais. Nesse período, já se apresentou, entre outros lugares, no Lincoln Center, em Nova York, em 2001, e no Teatro José Heredia, em 1997, em Santiago de Cuba – ocasião em que, lembra ele, Fidel Castro estava na plateia. Também apresentou-se para o então presidente de Portugal, Mário Soares, em Brasília, durante recepção na casa do então governador do DF, José Aparecido, em 1987.

“Oliveira de Panelas renova a cantoria, em razão dos temas modernos que ele aborda e da técnica que usa para fazer a arte de seus versos”, disse a pró-reitora de Extensão da UFPB, Bernardina Freire, em entrevista à assessoria de comunicação da universidade. “Ele é, por natureza, um doutor na sua arte”, completou. 

Bernardina e a professora Maria Elizabeth Baltar Carneiro de Albuquerque foram as proponentes do título para Oliveira.

O Regimento Geral da universidade estabelece que o título de Doutor Honoris Causa é concedido a “personalidades eminentes, que tenham contribuído para o progresso da instituição, da região ou do país ou que se hajam distinguido por sua atuação em favor das Ciências, das Letras, das Artes ou da cultura em geral.”

LIVROS DE OLIVEIRA DE PANELAS

Um dos livros de Oliveira,  Poemas Alternativos (1984), é descrito pelo projeto Coleção Literária, da Biblioteca Central da UFPB, como “uma obra que desafia as convenções da poesia tradicional e oferece ao leitor uma experiência literária única”, formado por “uma coletânea de poemas que são alternativos tanto em forma quanto em conteúdo”. 

“O que realmente distingue Poemas Alternativos”, continua a apresentação, “é a habilidade de Oliveira de Panelas de brincar com a estrutura poética. Ele quebra as regras tradicionais de ritmo e rima, criando uma cadência única que é ao mesmo tempo desconcertante e hipnotizante. Este estilo inovador serve para acentuar os temas poderosos explorados em cada poema, tornando a coleção uma leitura envolvente e emocionante.”

Entre outros, ele é autor também de …E Deus me fez cantador (2005), Cantando a história (2002), Dois poetas do povo e da viola (1996), Na cadência do martelo (1993) e Poemas iluminados (1983).

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Foto de Vandeck Santiago
Vandeck Santiago
Jornalista e escritor
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