Este 7 de setembro de 2025 vai ficar marcado como aquele que aconteceu em um período em que há brasileiros agindo em defesa da Proclamação da Dependência do Brasil.
A última vez que brasileiros foram bater às portas dos Estados Unidos para reivindicar interferência em nosso país, nós pagamos um preço elevado, dividido em prestações que duraram 21 anos, do golpe militar de 1964 até a redemocratização, em 1985.
Vou dar um exemplo que guarda semelhança com os dias atuais.
Em setembro de 1963, seis meses antes do golpe de 1964, o governador do então estado da Guanabara, Carlos Lacerda, deu entrevista ao jornal americano Los Angeles Times falando sobre a queda do presidente João Goulart. A matéria foi publicada em 29 de setembro, com o seguinte título: “Governador brasileiro prevê a queda de Goulart e aconselha aos Estados Unidos negar financiamento de ajuda ao Brasil”.
O primeiro parágrafo da matéria diz: “O governador da Guanabara, Carlos Lacerda, previu que o regime do presidente João Goulart pode ser derrubado antes do fim do ano”.
Lacerda era a voz da oposição que tinha mais ressonância na política brasileira. A entrevista causou um grande alvoroço no Brasil.
Em ações desse tipo, o principal efeito buscado não é resolver nenhuma crise, é causar desestabilização, enfraquecer quem está no poder.
Vou dar outro exemplo: nas eleições brasileiras de 1962, dinheiro americano apoiou 250 candidatos a deputado federal e 600 a estadual, além de candidatos a governador. O apoio total chegou a 5 milhões de dólares, uma fortuna, que hoje equivaleria a cerca de 50 milhões de dólares.
Quem menciona este valor de 5 milhões de dólares para ajudar candidatos no Brasil não sou eu – é o Lincoln Gordon, que era o embaixador dos Estados Unidos no Brasil naquele ano.
Ele falou sobre isso décadas depois do acontecimento, quando não era mais embaixador. Falou para veículos de imprensa brasileiros. Uma das entrevistas, dada em 2009, foi para o pernambucano Geneton Moraes Neto, o repórter brasileiro que mais sabia perguntar, uma figura extraordinária do nosso jornalismo.
Na entrevista, Geneton perguntou, naquele estilo bem peculiar dele:
“Mas, afinal, a CIA deu ou não deu dinheiro a candidatos simpáticos aos Estados Unidos nas eleições de 1962 no Brasil?”
Lincoln Gordon respondeu: “”Demos. Definitivamente. Com o passar do tempo, considerei que este foi um erro de nossa parte. Nós estávamos,na época,influenciados pelo que tinha acontecido na Itália logo depois da guerra: historiadores acham que o apoio aos anticomunistas italianos – inclusive com dinheiro e propaganda – foi o que tornou impossível a vitória eleitoral dos comunistas”.
Geneton retoma:
“Quanto a CIA gastou no Brasil?”
Lincoln Gordon: “A minha estimativa é que foram 5 milhões de dólares”.
Para vocês terem uma ideia, numa eleição presidencial americana, na época, os custos eram de cerca de 12 milhões de dólares.
Essa prática, de apoiar em dólares candidatos pró-EUA, não existe mais no Brasil, segundo as informações disponíveis.
Mas proclamar a dependência do Brasil parece que continua sendo um ato cultivado por alguns brasileiros.
REFERÊNCIAS:
A entrevista de Geneton Moraes Neto com Lincoln Gordon:
Episódio da entrevista de Carlos Lacerda ao Los Angeles Times: