Política e economia de Pernambuco e do Nordeste

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Ponte Júlia Santiago liga os bairros de Areias e Imbiribeira; 80% das obras estão concluídas (Foto: Diego Nigro (drone)/Prefeitura do Recife)

Maior ponte construída no Recife em 40 anos leva o nome de comunista que foi 1ª vereadora do Recife

Com 335 metros de comprimento, a ponte Júlia Santiago vai ligar as duas áreas mais populosas do Recife: a Zona Sul e a Zona Oeste. A obra, que começou em outubro de 2023, está com 80% de sua execução, e tem conclusão prevista para o primeiro semestre de 2026. O investimento é de R$ 106 milhões, com recursos da Caixa Econômica Federal e contrapartida da Prefeitura do Recife. 

O projeto inclui ainda benfeitorias nas duas avenidas mais próximas da ponte, a Tapajós, em Areias (Zona Oeste), e a Engenheiro Alves de Souza, na Imbiribeira (Zona Sul), que serão alargadas e terão novo paisagismo, urbanização, iluminação, abrigos de ônibus e plantio de 350 árvores ao longo das vias. 

“Essa é a maior ponte construída na cidade em 40 anos, ligando os bairros de Areias à Imbiribeira, cruzando o Rio Tejipió e conectando as avenidas Recife e Mascarenhas de Moraes. A estrutura terá mais de 20 metros de largura, quatro faixas de rolamento, duas faixas exclusivas para pedestres e uma ciclofaixa, garantindo mobilidade, segurança e integração com o transporte sustentável. O impacto será direto na vida de milhares de pessoas que circulam diariamente pela região, com redução de até 40% no tempo de deslocamento”, disse o prefeito João Campos (PSB), ao vistoriar as obras, nesta sexta-feira (5/9). “A nova ponte homenageia Júlia Santiago, primeira mulher eleita vereadora do Recife e símbolo da luta pelos direitos dos trabalhadores e da democracia. Estamos construindo uma obra histórica que vai transformar a mobilidade da nossa cidade e honrar a memória de quem abriu caminhos de coragem e resistência”, acrescentou ele. 

O projeto para dar o nome de Júlia Santiago à ponte é do vereador Chico Kico (PSB). 

Júlia nasceu em 1917, em São Lourenço da Mata, filha de camponeses e bisneta de escravos. Começou a trabalhar em fábrica aos 12 anos. Foi uma líder operária comunista com atuação no movimento dos trabalhadores de Pernambuco. Nos anos 1930, ajudou a criar o Sindicato da Fiação e Tecelagem de Pernambuco. Em 1947, tornou-se a primeira mulher a ser eleita vereadora no Recife – em um capítulo revelador da força das esquerdas na capital pernambucana na época:  dos 25 vereadores eleitos, 12 eram comunistas. Todos concorreram por outro partido, o PSP, uma vez que o PCB tivera o registro cassado pelo TSE. O segundo partido com mais eleitos para a Câmara foi o PSD, com 5 vereadores, seguido pela UDN (4), PL (2) e PDC (2). 

Em 1950, Júlia e os outros 11 comunistas foram cassados, com base na mesma decisão do TSE que pusera o PCB na ilegalidade. 

Júlia Santiago (Reprodução)

Como integrante do PCB, Júlia conviveu politicamente com líderes do partido, como Carlos Marighella, e teve intensa militância nas lutas em favor dos trabalhadores e, em particular, das mulheres. Em um Congresso das Mulheres, realizado em 1950, em São Paulo, sob organização do partido, ela defendeu uma de suas principais bandeiras, que era uma novidade na época, inclusive para a esquerda:  a de que o tempo de serviço para aposentadoria de homens e mulheres deveria ser diferenciado, uma vez que o trabalho doméstico representava uma jornada dupla para elas. Os homens trabalhariam 30 anos para se aposentar, e as mulheres, 20 anos, reivindicava ela. A tese encontrou resistência dentro do próprio PCB, mas acabou sendo aprovada. 

Júlia Santiago morreu em 1988.

Em 2017,  a Prefeitura do Recife a homenageou com uma programação que incluiu o lançamento da ópera “Júlia, a tecelã”, com regência e direção do maestro Wendell Kettle, e o documentário “Júlia, uma operária da luta”, com direção de Raoni Moreno e roteiro de  Guido Bianchi. A homenagem foi uma iniciativa da secretaria municipal da Mulher, na época comandada pela poeta Cida Pedrosa, hoje vereadora do Recife pelo PCdoB.

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Foto de Vandeck Santiago
Vandeck Santiago
Jornalista e escritor
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