Política e economia de Pernambuco e do Nordeste

Política e economia de Pernambuco e do Nordeste

Lula durante entrevista na TV Verdes Mares, em Fortaleza (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Lula contraria tese de que “voto não se recusa” e diz que não quer voto de homem que bate em mulher

O presidente Lula disse nesta quarta-feira (3/12), em Fortaleza (CE), uma frase que é rara entre os políticos: a de que não quer o voto de determinado grupo de pessoas. “Homem que bate em mulher não precisa votar em mim”, afirmou Lula, durante entrevista à jornalista Karla Moura, no programa Bom Dia Ceará, da TV Verdes Mares (afiliada da TV Globo no estado). “Essa mão que bate em mulher não precisa votar em mim. Porque é uma vergonha alguém ser violento. A mão da gente foi feita para trabalhar, foi feita para fazer cafuné e não para fazer violência na mulher”, enfatizou ele. 

Para Lula, a Lei Maria da Penha (2006) não conseguiu conter a violência contra as mulheres. “A gente aprovou a Maria da Penha no meu primeiro governo e eu pensei que ia diminuir a violência. A violência aumenta a cada dia. E não é só no meio do pobre, não. É na classe média e na classe rica também”, destacou ele. 

No dia anterior, ao participar de evento de ampliação da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, o presidente já havia abordado o assunto, afirmando que “até a morte é suave” para agressores de mulheres.  

Tanto o que ele disse em Pernambuco quanto o que falou no Ceará não são falas que a gente encontre nas lideranças da esquerda. 

Observemos as circunstâncias: depois de um período de recuperação, a desaprovação do governo Lula tornou a crescer, a partir do momento em que a segurança pública voltou para o centro do palco, com a operação policial em morros do Rio de Janeiro. 

Na terça-feira (2/12), pesquisa AtlasIntel/Bloomberg mostrou que a desaprovação chegou a 50,7%, um crescimento de 2,6 pontos percentuais em relação ao levantamento anterior, de outubro. Já a aprovação caiu para 48,6%, contra 51,2% em outubro.

Mas, independentemente dos fatores circunstanciais, a fala de Lula em Fortaleza é corajosa e ousada – contraria a máxima predominante na política de que “voto não se recusa”. Nas eleições de 2012, por exemplo, ao comentar um apoio indesejado dado ao então candidato presidencial Geraldo Alckmin, Fernando Henrique afirmou: “O voto você não recusa. Outra questão é fazer uma coligação política. Vai perguntar se o presidente Lula vai recusar o voto do Collor?”,  disse FHC. 

Dois outros pontos positivos da afirmação são que: 1) ela não admite recuo – o presidente bancou a aposta e terá de sustentá-la; e 2) dada a liderança exercida por Lula, a frase ressoa em todos os setores e pode impactar as gestões no país, levando a um enfrentamento mais consistente em relação à violência de homens contra mulheres. 

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Vandeck Santiago é jornalista e escritor. Trabalhou na VEJA, Folha de S. Paulo e Diario de Pernambuco. Venceu 15 prêmios jornalísticos, entre os quais o Prêmio Esso, o Prêmio Embratel e o Prêmio BNB. É autor de “Pernambuco em chamas – A intervenção dos EUA e o golpe de 1964” (CEPE, 2016) e de “Josué de Castro – o gênio silenciado” (Instituto Maximiano Campos, 2008).