Política e economia de Pernambuco e do Nordeste

Política e economia de Pernambuco e do Nordeste

Evaldo Costa e Helder Remigio, organizadores do livro (Foto: Leopoldo Conrado Sena/CEPE - Divulgação)

Livro discute ofício do historiador com ‘artífices da história’ em Pernambuco

O jornalista Evaldo Costa, que tem uma longa trajetória na arte de contar histórias, e o professor Helder Remigio, garimpador de arquivos e historiador de formação, lançam neste sábado (04/10), na Bienal do Livro de Pernambuco, o livro Artífices da História – Trajetória de vida e itinerários intelectuais (Cepe Editora). A obra é composta de entrevistas com 18 historiadores e historiadoras do estado. Estão lá, entre outros, Evaldo Cabral de Mello, Socorro Ferraz, Antônio Jorge Siqueira, Antônio Montenegro, Mário Hélio, Rita de Cássia Barbosa de Araújo e Sylvia Couceiro. Anotem hora e local para não perderem: 17h, no Espaço Conexões Petrobras da Bienal, no Centro de Convenções, em Olinda. 

“O livro constitui um inédito balanço das contribuições à historiografia brasileira feitas por um grupo de pesquisadores entre os mais produtivos do país, de diversas formações acadêmicas, vinculações profissionais e temáticas abordadas”, afirma Helder Remígio. 

“Cada um e cada uma abriu os escaninhos da memória e falou, com destemor, sobre seus percursos pessoais e intelectuais, e com isso pôde compartilhar saberes, justificar e explicar escolhas, afirmar convicções e, muitas vezes, confessar perplexidades”, destaca Evaldo Costa. 

MILITÂNCIA E VERDADE

Diversos temas ligados ao trabalho do historiador são enfocados no livro, sob a perspectiva de profissionais de diferentes gerações e práticas de ensino. “Acho que o historiador tem que ter a cabeça aberta, não pode ser um militante. Ele tem que ser militante da verdade”, diz Socorro Ferraz em sua entrevista. “E sabe-se que para chegar à verdade o caminho é muito difícil. Nenhum historiador chega. O que você pode, digamos assim, é chegar o mais perto da verdade. Os arquivos são muito, muito importantes. Mas eles não são o que passou completamente; são o que ficou, o que restou daquele passado”. 

As aproximações entre jornalismo e história, cada vez mais comuns nos dias de hoje, aparecem na entrevista de Mário Hélio – que fez a transição de um campo para outro. Talentoso repórter de cultura, no Caderno C, do Jornal do Commercio (eu acompanhava seu trabalho do outro lado da rua, na redação do “concorrente”, o Diario de Pernambuco), Mario Hélio mudou-se para a História, onde fez mestrado, acrescentando depois na transição um doutorado em Antropologia. 

Mário Hélio: História e jornalismo (Foto: Roberto Pereira/CEPE)

“A História implica um gosto especial por documentos, e o repórter, nesse aspecto, termina tendo um gosto duplo, um gosto ao mesmo tempo pela realidade que ele observa e pelo documento”, analisa Mário Hélio. “Se ele é um bom repórter, se ele pretende ser um bom jornalista, o documento vai ser muito importante para ele, pois não é suficiente saber bem entrevistar para fazer uma reportagem. Precisa saber fazer a investigação, e a investigação é uma palavra comum ao jornalismo e à academia”. 

As responsabilidades do historiador são destacadas na entrevista de Antonio Jorge Siqueira. “O compromisso do historiador é com a coletividade, com o coletivo, com a complexidade. As estruturas de poder impõem a redução, a simplificação, a homogeneização tal que elimina todas as facetas, reduzindo a diversidade”, resalta ele. “O historiador tem um dever cívico, um dever cívico de compromisso com a comunidade, no sentido de ser um eterno narrador daquilo que existiu”. 

Há destaque no livro para uma instituição que não é de ensino, mas de preservação da memória, cultura e educação: a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Rita de Cássia Araújo trabalha lá desde 1990. Começou pelo Cehibra (Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira), setor da Fundaj então coordenado pelo professor Manuel Correia de Andrade (1922 – 2007), um dos grandes nomes das ciências humanas do Brasil. 

Rita de Cássia Araújo: Fundaj e preservação da memória (Foto: Roberto Pereira/CEPE)

“Fomos encaminhados para esse setor porque havia o projeto que estava em curso, História oral do movimento político-militar de 1964 no Nordeste. Manuel Correia queria fortalecer essa linha da história oral na Fundaj”, conta Rita de Cássia. A inspiração da iniciativa era o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas. “Vi o contato entre as duas instituições, até que se implantou aqui essa área de história oral. Era um departamento novo, era uma metodologia, uma técnica relativamente nova numa instituição que estava investindo”. O acervo do História Oral, com entrevistas gravadas de protagonistas de ambos os lados, tornou-se fonte imprescindível para a reconstituição dos acontecimentos do período no estado.

OS AUTORES

Helder Remigio de Amorim é doutor em História do Brasil pela UFPE. Ensina história na Unicap (Universidade Católica de Pernambuco), como professor de graduação e do mestrado. É autor de Josué de Castro: Um pequeno pedaço do incomensurável (Paco, 2022). 

Evaldo Costa é jornalista. Trabalhou como repórter nos jornais Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil; como editor no Correio Braziliense (em Brasília) e no Diario de Pernambuco, e como editor-executivo no Jornal do Commercio. Dirigiu o Arquivo Público Estadual de 2016 a 2023. Cursa mestrado em História na Unicap. 

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Foto de Vandeck Santiago
Vandeck Santiago
Jornalista e escritor
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