Há um nome esquecido nessa batalha pelo Ramal Suape da Ferrovia Transnordestina: o de Tarcísio de Freitas. Foi ele, em julho de 2021, quando era ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro, quem cortou o ramal do traçado original, mantendo só a conexão com o Porto de Pecém, no Ceará.
Segundo argumentação de Tarcísio na época, não havia demanda nem viabilidade para fazer os dois ramais, e ele escolheu dar continuidade ao de Pecém e excluir o de Suape. Ao participar de live do Valor Econômico, em 20 de julho de 2021, ele disse que a obra da Transnordestina “foi um imbróglio que foi herdado, mais um problema de modelagem”. Sobre os ramais, afirmou: “Entendo que as duas ‘pernas’ não coexistem. Estou deixando claro para todo mundo que não tem demanda para o ramal de Pernambuco e para o ramal do Ceará”.

Houve uma forte reação de políticos pernambucanos. O então governador Paulo Câmara (PSB) chegou a encontrar-se com Tarcísio, em Brasília, e ouviu do ministro que o ramal seria cortado, mas que poderia ser feito por meio de uma nova concessão – medida que jogava uma eventual solução para um futuro incerto e não sabido.
Na Assembleia Legislativa de Pernambuco foi formada a Frente Parlamentar em Defesa do Ramal de Suape, proposta pelo deputado Waldemar Borges (PSB) e aprovada com 37 votos a favor e uma abstenção.

ROTEIRO DA EXCLUSÃO
O projeto original da Transnordestina, obra lançada em junho de 2006 pelo presidente Lula, tinha uma abrangência que se estendia em formato de “Y”, como uma forquilha: um tronco partia de Eliseu Martins, no Piauí, e, chegando em Salgueiro (PE), dividia-se em dois: um em direção ao Porto de Pecém (CE) e o outro para o Porto de Suape. Tudo isso feito em três fases:
FASE 1: Ia do Porto de Pecém até São Miguel do Fidalgo, no Piauí, passando por Salgueiro (PE), com 1.040 km. Esta foi mantida, e está com finalização prevista para 2027. Seu traçado é praticamente todo em território cearense.
FASE 2: Verifica-se dentro do território do Piauí, indo dos municípios de Paes Landim ao de Eliseu Martins. Esta fase também foi mantida. Estimativa é que seja concluída em 2029.
FASE 3: É aqui que a porca torce o rabo. É o trecho pernambucano, com 540 km, indo de Salgueiro a Suape. Este trecho foi cortado do traçado original, em 2021, pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. Em 2022 (no final do governo Bolsonaro), a empresa concessionária de toda a obra, a TLSA, oficializou sua saída da concessão desta Fase 3.

A Transnordestina, então, que era uma obra destinada a conectar 81 municípios de Pernambuco, Piauí e Ceará – tornou-se uma obra que conectava apenas os municípios do Piauí e do Ceará, excluindo Pernambuco (Salgueiro sendo apenas um ponto de passagem).
Uma informação importante: A Transnordestina é um projeto tocado com recursos do governo federal e recursos privados. Isso manteve-se com as Fases 1 (a do Ceará) e 2 (a do Piauí). Mas a Fase 3 (a de Pernambuco, do Ramal Suape) ficou de fora, ao ser cortada sob a justificativa de “inviabilidade econômica”.
Em agosto de 2023, já no atual governo Lula, o Ramal Suape foi incluído no Novo PAC, para ser construído com recursos do governo federal. Segundo informações do Ministério dos Transportes, o edital de licitação está previsto para sair neste segundo semestre de 2025.
A previsão inicial da obra era que estivesse pronta em 2010, prazo esticado após uma série de atrasos, adiamentos e problemas de orçamento.

DISPUTA PERNAMBUCO X CEARÁ
A retirada do trecho do Ramal Suape do projeto da Transnordestina acabou gerando, nos dias de hoje, disputas e divergências entre o Ceará (interessado em acelerar as obras no estado) e Pernambuco (interessado em retomar as obras no estado). O governador cearense Elmano de Freitas (PT) chegou a queixar-se da Sudene ao presidente Lula, por supostas demoras na liberação de financiamento. Apesar de se dizer “solidário” com o pleito pernambucano, ele fez uma ressalva nesta solidariedade: “Não tem sentido algumas pessoas de Pernambuco agirem para impedir o investimento da Transnordestina no Ceará”. Chamou estas ações de “querelas políticas”, destacando que elas não deveriam impedir o presidente de “acelerar as entregas”. (Veja matéria aqui no blog: https://blogdovandeck.com.br/criticas-de-elmano-de-freitas-a-sudene-vem-desde-o-inicio-do-ano-superintendente-danilo-cabral-e-exonerado/)
As divergências acabaram levando à exoneração, nesta terça-feira (05/08), do superintendente da Sudene, Danilo Cabral, um nome do PSB que estava no cargo havia dois anos, indicado pelo senador Humberto Costa (PT-PE).