A maioria dos jovens que cresceu em famílias atendidas pelo Bolsa Família rompeu o ciclo da pobreza e deixou de depender do programa, apontam os dados da pesquisa “Filhos do Bolsa Família: uma análise da última década do programa”, da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
O estudo mostra que, na chamada segunda geração de beneficiários, sete em cada 10 adolescentes atendidos em 2014 não precisam mais do auxílio em 2025. Considerando todos os beneficiários daquele ano, 60,68% deixaram o programa.
A tendência deve se fortalecer na próxima década, com mais famílias ganhando autonomia financeira e reduzindo a dependência de programas de transferência de renda, segundo a pesquisa. Os autores consideram que o grande desafio agora é ampliar a integração entre renda, trabalho e crédito produtivo, para que os avanços já observados cheguem a um número maior de famílias.
Segundo o ministro Wellington Dias, do MDS, a virada social das últimas gerações está diretamente ligada à frequência escolar, responsável por transformar trajetórias familiares de longo prazo. “Mais de 70% dos jovens que eram beneficiários entre 15 e 17 anos em 2014 ascendem quando chegam aos 20, 25 anos. Principalmente por causa dos estudos”, disse ele, durante a apresentação do estudo, no Rio de Janeiro.
A ascensão dos “filhos do Bolsa Família” é mais consistente quando a renda é combinada com educação e acesso a serviços públicos. As maiores taxas de saída estão em áreas urbanas e em famílias com melhor infraestrutura, emprego formal e maior escolaridade. Mas, mesmo nos contextos mais vulneráveis, mais da metade dos jovens deixou o programa.
O professor da Escola de Economia e Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV EPGE) e autor do estudo, Valdemar Pinho Neto, destacou que os melhores resultados estão associados a contextos mais favoráveis. Segundo ele, oportunidades locais, especialmente em regiões urbanas e economicamente dinâmicas, somadas às condições socioeconômicas das famílias, ao nível de pobreza e à qualidade da moradia, influenciam diretamente as chances de ascensão dessa geração.
“Um dos pontos de atenção é que o tipo de ocupação faz muita diferença. Quando o jovem consegue um emprego formal, as chances de deixar o programa aumentam significativamente. Quase 80% dos filhos de famílias que recebiam o Bolsa Família em 2014 e conquistaram um trabalho com carteira assinada não dependem mais do benefício”, explicou o pesquisador.
HISTÓRICO
Criado em outubro de 2003, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o programa de transferência de renda atravessou diferentes reformulações ao longo dos governos. Em 2021, na gestão de Jair Bolsonaro, deu lugar ao Auxílio Brasil. Dois anos depois, com a volta de Lula ao Planalto, o Bolsa Família foi restabelecido.
Do Correio Braziliense



