Política e economia de Pernambuco e do Nordeste

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Governador do Ceará, Elmano de Freitas (Reprodução do Instagram do governador)

Elmano diz que “já passou o tempo” em que o principal motivo da violência eram os problemas sociais   

Ao discursar hoje (segunda-feira, 23) na inauguração de uma nova delegacia em Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza (CE), o governador Elmano de Freitas (PT) disse que “já passou o tempo em que a gente enfrentava alguém que por acaso teve problemas sociais, que por acaso não teve acesso à educação, que por acaso estava desempregado e foi ali e roubou alguma coisa”. Hoje é diferente, argumentou ele. “Não é mais este o crime que nós estamos a enfrentar no Ceará e no Brasil. O crime que nós estamos a enfrentar é de gente muito rica e poderosa, que está aliciando a nossa juventude, que não está nem ligando se a juventude está se matando, se pais e mães estão chorando, porque para eles o que interessa é ficar multimilionário vendendo a droga”, completou. 

O pronunciamento foi o mais contundente já feito até agora por uma liderança de esquerda em relação à segurança pública, sem tolerância nem atenuantes com quem comete crimes. “Não podemos ter conversa mole com quem está envolvido com o crime”, afirmou o governador, defendendo que é preciso “agir com mão muito dura” contra as facções e “fortalecer ao máximo as forças de segurança”.  Segundo ele, o governo do Ceará aumentou as horas extras e as diárias dos policiais; estabeleceu um sistema de metas que premia com R$ 2 mil aqueles que cumprirem as metas de suas regionais e vai comprar mais armamentos, mais viaturas e realizar concursos para a PM e a polícia civil.  

Elmano também fez cobranças ao Judiciário:  “Pelo amor de Deus,não solte essa bandidagem que a polícia prende todo santo dia no Ceará”. Elogiou integrantes do Tribunal de Justiça pelas decisões de “muitas vezes manter esse povo preso”, mas lamentou que “algumas vezes nós temos a situação dessas pessoas sendo soltas”. Pessoas que, segundo ele, são “perigosas”, que a PM e a polícia civil passaram tempo para prender e que às vezes são liberadas 24h ou 48h depois. 

“Mas o nosso dever”, continuou Elmano, “é dialogar ainda mais com o Judiciário, apresentar cada vez mais provas, para dizer que aquela pessoa, que é absolutamente perigosa, que deixa aquele bairro, aquela comunidade intranquila, com medo, essa pessoa, depois de ser presa, tem de ficar presa”. 

Mandou ainda um recado para aqueles que cometeram crimes no estado e encontram-se foragidos. “Pode ter certeza: nós vamos bater em todo canto que você possa estar, para lhe localizar e prender”. Informou que o número de foragidos presos já chega a  20 mil. 

SEGURANÇA PÚBLICA 

O principal desafio “de qualquer gestor do Brasil”, hoje, na opinião do governador, é segurança pública: “Por um motivo simples: você tem uma demanda de crianças sem escolas. O governo e a prefeitura vêm e constroem aquele centro de educação infantil. Coloca os profissionais. No dia seguinte, as famílias podem levar as suas crianças para estudar naquela escola. Você tem um desafio de saúde. Você cria o posto de saúde, cria o hospital, coloca o médico, começa a fazer cirurgias e você começa a atenuar o problema”. 

Mas na segurança pública é diferente, comparou ele. “Você contrata o policial civil, você contrata mais policial militar, você treina, mas você tem organizações poderosas, que movimentam bilhões, aliciando jovens, dizendo que eles devem ir lá no outro bairro e matar outro jovem porque ele é de outra facção, e que ele tem de fazer isso e aquilo outro. Aí você prende este jovem, e o crime organizado vai lá e procura outro jovem. E você às vezes prende o chefe da facção, e dentro da facção vira uma guerra para saber quem é o novo chefe da facção. Porque se movimentam milhões e milhões naquilo que a sociedade consome de droga, compra a droga e é vítima daquelas organizações que ficam poderosas vendendo essa mesma droga”

Por isso, “é muito mais complexo e difícil resolver esta situação da segurança pública do que os da educação e saúde – que ainda têm muita coisa a ser feita”.  

PROBLEMAS SOCIAIS

As questões sociais entraram no discurso do governador Elmano como forma de combate ao crime, não como atenuante. “Sempre defendi, e vou continuar defendendo, que a gente precisa reduzir a desigualdade, dar oportunidade para o novo povo, educação, saúde, escolas. Mas, se nós estamos fazendo tudo isso, o crime organizado não pode colocar tudo isso para trás”, justificou, adiantando que “o crime organizado é o maior inimigo do nosso povo” e que, enquanto não “derrotá-lo”, não ficará “tranquilo”. 

Salientou que no Ceará, entre outras obras, foi inaugurado o maior hospital público do estado, com 834 leitos e até 2026 terão sido construídas 138 escolas públicas de tempo integral – cada uma delas com investimento de R$ 10 milhões. “Aprendi com o companheiro Lula que a gente tem de dar o que é bom para o nosso povão”, pontuou, informando que até o final do próximo ano, cada município cearense terá pelo menos duas faculdades e dois cursos de especialização. “Eu nasci no interior [em Baturité, em 1970]. Na minha turma, 3 entraram numa universidade. Ano passado, 24.403 estudantes de escolas públicas ingressaram na universidade”, ressaltou. 

SOLENIDADE

Além do governador, estavam presentes na solenidade em Itaitinga o prefeito do município, Marquinhos Tavares (PRD), o secretário estadual da Segurança Pública e Defesa Social, Roberto Sá, e o delegado-geral da Polícia Civil, Márcio Gutiérrez. A delegacia foi a sétima a ser inaugurada desde 2023, como parte de pacote de 12 planejadas no Programa Ceará Contra o Crime.

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Foto de Vandeck Santiago
Vandeck Santiago
Jornalista e escritor
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