O presidente Lula visita Pernambuco e Paraíba nesta quarta-feira (28) e a ocasião é propícia para a pergunta: A votação dele no Nordeste corre risco de queda, como levam a supor algumas pesquisas?… Tudo é possível no mundo dos possíveis, já dizia Miguel Arraes, mas o fato é que, neste momento, 1) o cenário dos palanques pró-Lula na região está mais favorável que na eleição contra Bolsonaro, conforme apuração feita por este blog em cada um dos 9 estados nordestinos, e 2) não há nenhum fator desfavorável a ponto de causar sangria nos votos que ele costuma obter nos estados nordestinos.
Ouvimos uma especialista em eleições no Nordeste, Luciana Santana, que é doutora em ciência política pela UFMG, pesquisadora do Observatório das Eleições INCT e cientista política da UFAL. “A tendência para 2026 é que Lula mantenha no Nordeste o patamar que tem alcançado nas últimas eleições”, diz ela. “Por mais que haja avaliações negativas do desempenho do governo, as perspectivas para a eleição presidencial não alteram. O voto está muito atrelado ao contexto local”, completa.

Lula inicia sua viagem ao Nordeste por Salgueiro, no Sertão de Pernambuco. Depois, segue para o município de Cachoeira dos Índios, na Paraíba, e encerra a agenda no Juazeiro do Norte (CE). Vem fazer inaugurações e visitas de obras da Transposição do São Francisco.
SITUAÇÃO NOS ESTADOS

Nos três estados da região com mais eleitores, o quadro, hoje, é o seguinte:
PERNAMBUCO: A candidatura de Lula deve contar com os dois principais candidatos ao governo do estado – o prefeito do Recife, João Campos (PSB), que aparece como favorito segundo as pesquisas, e a governadora Raquel Lyra (PSD). João apoiou Lula em 2022 e repetirá a dose no próximo ano. Já Raquel Lyra, no segundo turno, declarou-se neutra. Agora, ela está em processo acelerado de aproximação com o governo Lula. Saiu do PSDB e filiou-se ao PSD. O ato de sua filiação, no Recife, em março passado, contou com a presença do ministro pernambucano André de Paula (Pesca e Aquicultura).
João e Raquel estarão hoje em Salgueiro, na visita de Lula a Pernambuco.

No governo Lula, cinco ministros são de Pernambuco. O estado tem sido foco de obras do governo federal, como o Hospital da Mulher do Agreste (inaugurado no início do mês) e a ampliação do Aeroporto Regional Oscar Laranjeira, ambos em Caruaru, terra da governadora. O edital de licitação das obras do aeroporto está previsto para junho próximo. O investimento é de cerca de R$ 140 milhões, divididos entre governo federal e estadual.
Há outras obras importantes, como o Arco Metropolitano, rodovia duplicada que vai melhorar a logística e o tráfego da Região Metropolitana do Recife.
Em todo o Nordeste há obras e investimentos federais. Devem ganhar a visibilidade que não têm hoje quando o governo federal divulgar todos os projetos em execução ou inaugurados em cada um dos estados.
BAHIA: Em 2022, a vantagem de Lula entre os baianos foi de 3,740 milhões de votos, a maior entre todos os estados do país. O número é espantoso. Superou a soma total da diferença que Bolsonaro alcançou em 10 unidades da Federação: Rio Grande do Sul, Brasília, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, Amapá, Rondônia e Roraima. Nesses 10, a diferença pró-Bolsonaro ficou pouco abaixo de 3,7 milhões de votos.

Para 2026, o PT deve entrar na eleição estadual com uma chapa majoritária inédita: com três governadores, todos do partido. O governador Jerônimo Rodrigues para a reeleição, e Rui Costa (ministro da Casa Civil) e Jacques Wagner para as duas vagas do Senado. Tanto Rui quanto Jacques deixaram o governo da Bahia com sólida avaliação positiva da gestão.
Na eleição municipal de 2024, a aliança do governador Jerônimo Rodrigues (formada por 10 partidos) elegeu 310 prefeitos, entre os 417 do estado. Número superior ao do seu antecessor, Rui Costa, cuja aliança, em 2020, elegeu 285 prefeitos.
CEARÁ: Elmano de Freitas (PT) elegeu-se governador no primeiro turno em 2022. Vai concorrer à reeleição. Fortaleza foi a única capital do país em que o partido saiu vitorioso, numa disputa acirrada com um candidato bolsonarista, o deputado federal André Fernandes (PL).
É do Ceará um dos ministros de mais prestígio no governo Lula, Camilo Santana (Educação), que foi governador do estado.
O pleito cearense está com uma incógnita, surgida nos últimos dias: se Ciro Gomes vai concorrer ao governo do estado, em uma eventual chapa com bolsonaristas. “Ciro Gomes escolheu ser aliado prioritário do bolsonarismo”, afirmou o governador Elmano, esta semana.
O que quer que aconteça, não deve interferir na eleição presidencial no Ceará – a própria candidatura de Ciro à Presidência não interferiu, em 2022. Os cearenses deram a Lula uma diferença de mais de 2 milhões de votos.
SEM SURPRESAS
Em termos de votos absolutos, foi na Bahia que Lula estabeleceu a maior vantagem sobre o adversário. Em termos proporcionais, isso ocorreu no Piauí: 76,86% da votação válida.
Lá o governador Rafael Fonteles (PT), atual presidente do Consórcio de Governadores do Nordeste, marcha para uma reeleição tranquila. É um nome em ascensão no PT.
O destaque do bolsonarismo no Piauí é o do senador Ciro Nogueira (Progressistas). Está no final do mandato e deve concorrer à reeleição (ou a vice do candidato bolsonarista à Presidência).
Em Alagoas, o atual ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), surge como o favorito para o governo estadual, tendo a companhia do pai, Renan Calheiros (MDB), para uma das duas vagas ao Senado. Para a segunda vaga governista ao Senado, uma das hipóteses é a do ex-presidente da Câmara, Artur Lira (PP), hoje adversário de Calheiros.
Nos demais estados, a situação para 2026 não apresenta grandes diferenças para 2022 – a não ser o fato da presença do governo federal, com investimentos, obras e ministros do lugar.

RECADO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS?
Nas eleições municipais de 2024, as primeiras com Lula como presidente, o PT não se saiu bem na região. Dos 135 municípios nordestinos com mais de 200 mil habitantes, apenas um elegeu um prefeito petista: Fortaleza, com Evandro Leitão. Em todo o Nordeste, que possui 1.794 cidades, o PT elegeu somente 170 prefeitos, ficando em 5º lugar entre os partidos com mais prefeituras (atrás do MDB, PSD, PSB e PP).
Tem alguma mensagem de 2024 para 2026? A cientista política Luciana Santana considera que não. Nas eleições municipais a direita e a extrema direita tiveram candidaturas competitivas em alguns lugares, e cresceram na região. Mas a tendência não deve impactar a disputa presidencial. “O comportamento do eleitor nas eleições presidenciais não segue essa direção, é um voto mais progressista, mais de esquerda”, afirma ela.
CANDIDATOS BOLSONARISTAS
O bolsonarismo estará presente com nomes de destaque em pelo menos quatro estados: Rio Grande do Norte, onde o senador Rogério Marinho (PL) disputará o governo; Paraíba, com a candidatura também ao governo do ex-ministro da Saúde no governo Bolsonaro Marcelo Queiroga (PL); Piauí, com o já citado Ciro Nogueira, e Ceará, com o pastor Alcides Fernandes (PL) concorrendo ao Senado.