“Paulo Câmara deixou a casa arrumada. Resta ver se ela permanecerá assim”, afirma matéria do Diário do Nordeste (CE) desta sexta-feira (3/10), assinada pelo colunista Victor Ximenes. A sede do BNB fica em Fortaleza, e a imprensa cearense acompanha de perto os acontecimentos do banco.
“Alvo recorrente de políticos do Centrão pela sua colossal influência econômica — além de cargos com altos salários —, o BNB colecionou uma série de episódios turbulentos, antes da chegada de Câmara. Um dos mais marcantes foi a gestão relâmpago de Alexandre Cabral, que tomou posse em junho de 2020 como presidente do banco e foi exonerado 24 horas depois”, diz o texto do colunista, intitulado “Saída de Paulo Câmara do BNB pode encerrar onda de calmaria no banco”.
A matéria menciona ainda “o fatídico vídeo em que Valdemar de Costa Neto pedia publicamente a demissão do então presidente Romildo Rolim e de toda a diretoria do banco”. O pedido foi feito em 27 de setembro de 2021, no governo Bolsonaro, por meio de postagem de Valdemar nas redes sociais e de ofício encaminhado por ele ao ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e à ministra-chefe da Secretaria de Governo, Flávia Arruda.
O motivo foi um contrato do banco com uma ONG, no valor de R$ 600 milhões. O presidente Romildo Rolim – que fora indicado para o cargo durante o governo de Michel Temer, em 2017 – acabou sendo substituído.
Na gestão de Paulo Câmara, segundo o colunista, “essas tempestades cessaram” e desde então o desempenho do banco tem sido marcado por recordes sucessivos. “O BNB vem gerando resultados contundentes, renovando recordes de desembolsos e contratações sistematicamente, enfim, cumprindo com eficiência seu papel basilar de fomentar o desenvolvimento no Nordeste. Ademais, o mandatário é benquisto entre os servidores e transita de forma acessível ante o empresariado da região”.
A matéria fala também sobre a incerteza causada pela saída de Câmara: “Fontes ligadas ao banco, ouvidas por esta Coluna, temem que a saída do ex-governador de Pernambuco volte a conturbar o ambiente, gerando incerteza e eventuais problemas na governança.”
MOTIVO DA SAÍDA
Foi o próprio Câmara que pediu para sair, segundo o Ministério da Fazenda. Ele deve deixar o cargo nos próximos dias. Mas pode voltar em janeiro do próximo ano.
Entenda o caso: a saída dele está ligada à Lei das Estatais, que estabelece uma quarentena de 3 anos para que dirigentes de partidos assumam cargos em empresas públicas – o prazo acaba em janeiro de 2026. Paulo Câmara poderia ficar como presidente interino até esta data, quando se encerram os três anos da quarentena, e então ser nomeado definitivamente. Mas preferiu sair.
Governador de Pernambuco por dois mandatos (2015-2022), Câmara foi vice-presidente nacional do PSB até janeiro de 2023. Sua nomeação para o BNB ocorreu em março daquele ano, e ele tomou posse com base em uma liminar do STF, que suspendeu a exigência da quarentena. A medida foi alterada mais tarde, determinando que ele poderia ficar no cargo até o fim do mandato de presidente do banco, em agosto de 2025. De agosto até agora, Câmara continuou presidente amparado em regra do Estatuto Social do Banco – segundo a qual a gestão é automaticamente prorrogada até que um substituto seja nomeado.