O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) escreveu a carta do próprio punho e a entregou pessoalmente ao ministro do STF Alexandre de Moraes, suplicando perdão por tê-lo xingado de “lixo, “canalha”, “vergonha”, “esgoto” e “déspota”. O tom da carta é, como diríamos no Nordeste, bem mansinho, diferente daquele empregado durante os xingamentos.
Entre outras coisas, o parlamentar diz que fez as ofensas por ter sido “tomado por forte emoção”. Afirma que “é pastor há mais de 30 anos” e sabedor que o “comportamento e o vocabulário ofensivo” empregados são “inaceitáveis pela igreja”. Apesar disso, conta que foi “vencido pelo destempero e seduzido por aquele momento de ataque às instituições, uma página triste na política brasileira”. Reconhece que “se excedeu” e dirigiu-se ao magistrado “com um nível de desrespeito que me envergonho hoje”.
O texto da carta, na íntegra, foi divulgado pela colunista Malu Gaspar, de O Globo, nesta quinta-feira (19/06). O último parágrafo é praticamente uma súplica por misericórdia, vejam:
“Tenho consciência que o julgamento que serei submetido no plenário da Suprema Corte, por ofensas a Vossa Excelência, pode estabelecer a perda do meu mandato parlamentar e o fim da minha carreira política, mas suplico o favor de Vossa Excelência, que me ajude a não viver essa vergonha diante dos meus filhos e Igreja.
Mais uma vez, perdão.”
ORIGEM DO CASO
O deputado Otoni de Paula era vice-líder do governo Bolsonaro quando fez os xingamentos contra Alexandre de Moraes, durante duas lives, em 2020. No mesmo ano, foi denunciado pela PGR por difamação, injúria e coação. Em 2023, o plenário do STF – sem a participação de Moraes, que se declarou impedido – aceitou a denúncia e o parlamentar tornou-se réu. Ainda não há data para o julgamento.
A CARTA, NA ÍNTEGRA*
“Excelentíssimo Sr. Ministro do STF Dr. Alexandre de Moraes
Venho respeitosamente, através desta carta, redigida por mim mesmo, a Vossa Excelência, com objetivo de lhe pedir perdão, como tive a oportunidade, mesmo que rapidamente, lhe pedir em solenidade no Palácio do Planalto no ano passado, por minhas declarações ofensivas e desrespeitosas a Vossa Excelência em duas infelizes ocasiões.
A primeira quando Vossa Excelência determinou a quebra dos meus sigilos. Soube da decisão de Vossa Excelência através da imprensa. Naquele momento, vi minha honra como político, pastor e chefe de família sendo exposta à opinião pública, tão acostumada a associar tais decisões judiciais à corrupção ou algo parecido. Por viver da minha imagem e sabedor que tenho pautado minha vida pública e privada na honestidade, tomei a decisão de abrir uma live pela minha rede social com o intuito de me defender e, justamente, nesse momento, tomado de forte emoção, acabei me excedendo e acabei me dirigindo a Vossa Excelência com um nível de desrespeito que me envergonho hoje.
A segunda ocasião, que se deu em menos de 30 dias do ato acima mencionado, foi durante uma outra live, esta motivada a defender o sr. Oswaldo Eustáquio, embora até aquele presente momento nunca ter estado com o jornalista pessoalmente.
Apenas pelas redes sociais, me posicionei em sua defesa, diante de uma decisão de Vossa Excelência. Nesse momento, ainda movido e tomado de forte emoção e sentimento de injustiça pela decisão de Vossa Excelência, relatado no parágrafo acima, mais uma vez me excedi ao me dirigir a Vossa Excelência de forma desrespeitosa.
Ministro, sou pastor há mais de 30 anos das Assembleias de Deus, portanto, tal comportamento e vocabulário ofensivo, são inaceitáveis pela Igreja, mas fui vencido pelo destempero e seduzido por aquele momento de ataque às instituições, uma página triste na política brasileira. Por essa razão quero demonstrar à Vossa Excelência meu profundo arrependimento, pedindo escusas à Vossa Excelência.
Tenho consciência que o julgamento que serei submetido no plenário da Suprema Corte, por ofensas a Vossa Excelência, pode estabelecer a perda do meu mandato parlamentar e o fim da minha carreira política, mas suplico o favor de Vossa Excelência, que me ajude a não viver essa vergonha diante dos meus filhos e Igreja.
Mais uma vez, perdão.
Dep. Otoni de Paula”
*Publicada nesta quinta-feira (19/06) pela colunista Malu Gaspar, em O Globo