Política e economia de Pernambuco e do Nordeste

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Autor de obra que incursiona pelas banalidades do cotidiano, Luiz Arraes lança seu novo livro de contos

O escritor Luiz Arraes lança nesta segunda-feira (6/10), na Bienal do Livro de Pernambuco, às 16h, no espaço Círculo das Ideias, seu novo livro, A minúscula morada do espírito humano, de contos. “Uma das coisas que mais chama atenção na escrita condensada e elíptica de Luiz Arraes é a elaboração de quadros”, escreve no prefácio Fábio Andrade, crítico literário e professor de literatura brasileira e portuguesa da UFPE. “É como um miniaturista, capaz de concentrar em poucos lances dramáticos uma história que parece poder ocupar centenas de páginas”. 

Médico, professor e pesquisador, Luiz Arraes tem contos publicados em antologias e revistas literárias. A minúscula morada do espírito humano é seu 16º livro. Entre suas obras anteriores estão Dicionário de silêncios, A noite sem sol e A volta do bumerangue. É autor também de Todo diálogo é possível – conversas com meu pai, Miguel Arraes, de memórias.

CACHORROS E LAGARTIXAS

No prefácio, Fábio Andrade refere-se aos textos de Luiz Arraes como “narrativas liliputianas”, associação que aproxima o autor do contista brasileiro que melhor se expressou com esta característica, o paranaense Dalton Trevisan, citado pelo prefaciador. 

É possível sentir na obra de Luiz Arraes as sutilezas de outro grande contista nacional, o mineiro Luiz Vilela, mestre na linguagem coloquial e nos subtextos ocultos nas narrativas do cotidiano e da banalidade. Curioso observar a presença, tanto nos textos de Luiz quanto nos de Vilela, de animais compondo as cenas com protagonismo (lagartixa, cachorro…) – motivo pelo qual, ao escolher um dos contos de A minúscula morada… para transcrever aqui, optamos por este que segue abaixo:

A CADELA 

          Luiz Arraes

O menino olhava a cadela que dormia sob o céu quente de fevereiro. Abanava o rabo chicoteando-se a si própria para afastar os insetos. 

Recostado a um pneu velho o menino roía as unhas até doer, até ferir.

Aquele subúrbio sempre fora daquele jeito. 

Pobre, não havia atividade econômica, nunca houve. 

Pouco povoado. As casas e casebres sucediam-se na rua e nas ruas paralelas com muitos terrenos baldios. 

O menino cochilou. 

Sob o céu quente, o mormaço, dormiam frente a frente a cadela e o garoto.

Desenho de Maurício Arraes, reproduzido do livro A minúscula morada do espírito humano

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Foto de Vandeck Santiago
Vandeck Santiago
Jornalista e escritor
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