Retrato de uma época: Francisco Julião e a mulher, Alexina Crêspo, assistem com Fidel Castro, no Palácio dos Esportes, em Havana, uma apresentação do Circo Soviético, em 1961. Julião era o líder nacional das Ligas Camponesas, e, naquele momento, o principal defensor da Revolução Cubana no Brasil. Alexina, que atuava com destaque e autonomia no movimento liderado pelo marido, aderiu à luta armada quando uma ala das Ligas optou por este caminho. Participou de treinamento de guerrilha em Cuba e chegou a encontrar-se com Mao Tsé-Tung, a quem pediu armas para a revolução no Brasil. O casal separou-se anos depois. No exílio, Julião viveu no México; Alexina, em Cuba, no Chile e na Suécia.

Estas e outras histórias estarão pairando neste domingo (27), a partir das 9h, no Engenho Galileia, em Vitória de Santo Antão (cerca de 40 km do Recife), durante ato de celebração dos 70 anos das Ligas Camponesas. O movimento surgiu exatamente no Engenho, com os camponeses do lugar, em 1955.
No evento, será lançado o livro “Memórias Trabalhistas – Francisco Julião”, editado pela Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini. A obra é composta de textos escritos por autores convidados – um deles, João Pedro Stédile, fundador e dirigente do MST. “Julião foi, sem dúvida alguma, um grande intelectual orgânico dos camponeses nordestinos”, diz Stédile, em trecho do seu artigo. “Soube aliar o conhecimento científico e formal, que aprendeu nos bancos da faculdade, com a cultura e sabedoria camponesa, para transformar em organização e luta de massas. Naquela época, as Ligas Camponesas fizeram manifestações com 50 mil camponeses, no Recife. Nunca mais conseguimos repetir com tal magnitude”.

A organização do ato tem o apoio do Comitê Pernambuco por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia (CMVJ-PE), Secretaria de Cultura, Turismo e Economia Criativa (Seculte) de Vitória de Santo Antão e Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini. Estarão presentes familiares de Julião e Alexina, como os filhos Anacleto e Anatólio; Zito da Galileia (neto de Zezé da Galileia, líder do movimento no Engenho, nos anos 1950); artistas; moradores de comunidades rurais da região e representantes de instituições governamentais e não governamentais, entre outros.
As Ligas foram extintas imediatamente após o golpe de 1964. Julião morreu em 10 de julho de 1999, no México, aos 84 anos; Alexina, no Recife, em 2013, aos 87 anos.