Política e economia de Pernambuco e do Nordeste

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Senador Oscar Passos, 1º presidente do MDB, e deputada Carla Zambelli (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)

A fuga de Zambelli: Por que falta coragem cívica à extrema direita? 

Antes de falar da deputada que ora se encontra no exterior, permitam-me enfocar um gesto de coragem deste cidadão ao seu lado nesta junção de fotos. Trata-se do senador Oscar Passos, primeiro presidente nacional do MDB. Em agosto de 1970, diante de afirmação de um líder político ligado ao regime militar, de que o partido deveria considerar a “Revolução de 1964” (como se dizia na época) um fato irreversível e “colaborar” com a nova ordem, Oscar Passos rebateu dizendo que o MDB não era um “Partido da Revolução” e nem poderia ser, uma vez que “desejamos que a Revolução se extinga e que voltem a imperar os preceitos institucionais”. 

Atenção para a data: 1970, governo Médici, a ditadura no auge.

O AI- estava em plena vigência, cerca de 60 deputados do MDB já haviam sido cassados; a legislação dava ao presidente da República o direito de colocar o Congresso em recesso (na prática, fechar por um determinado período) quando bem entendesse, sem precisar de nenhuma autorização judicial; o  Presidente podia também intervir nos estados e suspender por até 10 anos os direitos políticos de qualquer pessoa. 

Voltemos à resposta de Oscar Passos*, que continuou (grifos do blog):

“A linha do partido [MDB] é de intransigente defesa dos princípios democráticos. Por isso nos batemos pelo retorno à normalidade democrática e pela extinção da legislação de exceção, com todas as suas consequências. Esta é uma posição clara do MDB, apregoada constantemente. Também não devia ser surpresa para ninguém a posição clara do partido com relação à volta ao passado. Nunca defendemos essa ideia, porque entendemos que a vida não para nem retrocede. Queremos a evolução natural, dentro da ordem, dentro do Estado de Direito. Queremos a liberdade de ter opinião para poder criticar o governo quando julgarmos que ele errou, ou apoiar suas medidas quando as julgarmos acertadas. Não consideramos irrealista a nossa posição pleiteando a revogação do AI-5. Se conseguirmos ou não isso a curto prazo, é outra questão. Mas, se defendemos a volta ao Estado de Direito, não podemos nos conformar com a coexistência de uma Constituição que não vige e de um ato institucional que tem todo o valor.”

Assim como o senador Oscar Passos, nos vários espectros da luta política brasileira há muitos exemplos de coragem cívica. 

Por que não encontramos esta característica nas lideranças da extrema direita, que costumam ser tão belicosas na retórica?… 

Olhem os exemplos recentes.  Antes agressivos, fogem dos riscos quando a situação se reverte. Como se não estivessem dispostos a pagar o preço pelos seus – vá lá – “ideais”.  

Ouso conjecturar que a coragem cívica está ligada à consciência de cada um – quanto mais consciente da justeza dos seus atos, mais firme é o seu posicionamento diante dos fatos e sua disposição para enfrentar as adversidades. Em sentido inverso, quanto menos consciente…

*”Oposição quer o fim da Revolução, diz Passos”, Jornal do Brasil, 26/08/1970

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Foto de Vandeck Santiago
Vandeck Santiago
Jornalista e escritor
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