Política e economia de Pernambuco e do Nordeste

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Fala sobre suposto engano ocorrido em "uma capital do Nordeste" foi de Henrique Krigner (de barba), no programa Pingo nos Is

Comentarista da Jovem Pan erra ao dizer que numa “capital do Nordeste” pessoas se confundiram e gritaram “sem anestesia”

O comentarista Henrique Krigner disse no programa Pingo nos Is desta terça-feira (16/12), na TV Jovem Pan News, que uma cena inusitada teria ocorrido numa “capital do Nordeste” durante as manifestações do último domingo, quando as pessoas teriam, por engano, gritado “sem anestesia” em vez de “sem anistia”. Não é verdade, isso não ocorreu, mas vamos conferir o que ele disse, quando falava dos atos realizados no país: 

“As pessoas ali nem sabiam, especialmente os artistas, como e porque se posicionar contrário à anistia. Pegavam o microfone e diziam: ‘É pelas mulheres!’, ‘É pelas florestas!’, ‘É pelos animais!’. Ué, mas não era anistia?… E aí teve até numa capital do Nordeste do Brasil que as pessoas gritavam ‘Sem anestesia’. Ou seja, não sabiam porque estavam nas ruas, não sabiam o que é que estavam fazendo ali, e não sabiam também o impacto que isso tem para a nossa nação.”

Talvez ele não tenha lembrado qual teria sido “a capital do Nordeste” palco desse acontecimento, e aí colocou a região toda na frase. Quero crer que a associação do Nordeste a uma suposta demonstração de ignorância não foi proposital, e que o engano não se deveu a ideias preconcebidas sobre o Nordeste.  

Mas pior ainda é que a informação está EQUIVOCADA.

Em NENHUMA capital do Nordeste ocorreu isso que o comentarista falou.

Circula nas redes bolsonaristas vídeo de militantes gritando “sem anestesia”, mas o lugar apontado é Manaus. O vídeo não traz maiores informações sobre a cena nem cogita a possibilidade de o grito “sem anestesia” ter sido proposital (como ironia. Se fosse no Recife, por exemplo, tenho certeza que seria ‘tiração de onda’, como se diz por aqui).

De todo modo, a cena é mostrada como sendo em Manaus, e não numa “capital do Nordeste”.

Duas conclusões se impõem: 1) É sempre conveniente, tanto para os veículos quanto para seus comunicadores, checar a informação antes de lançá-la ao ar; 2) Tanto a emissora quanto o comentarista deveriam desculpar-se com as “capitais do Nordeste”. 

CONFIRA ÍNTEGRA DAS FALAS

O programa Pingo nos Is vai ao ar de segunda a sexta, das 18h às 20h. Nesta terça-feira, o apresentador, Daniel Cominato, falava sobre pesquisa que indicava o temor no Brasil de as pessoas falarem sobre política e perguntou ao comentarista Henrique Krigner: 

“E você, Krigner, é preciso fazer um exercício para entender quais são os caminhos que as instituições, os homens, as autoridades precisam tomar para mudar este cenário e retomar o caminho da normalidade? Bastaria eleger A, B ou C? Ou não, é um problema muito maior que isso?”

Henrique Krigner respondeu:

“Acho que é um problema maior. Porque passa pela consciência e pelo desejo do brasileiro de ter um Estado que funciona. De fato, funciona, e não que atende aos seus desejos ou mesmo aos seus interesses políticos. Quando a gente vê um Estado que os poderes estão bagunçados, e isso parece que não causa uma forte mobilização de toda a população, então nós vemos que, realmente, aqueles que estão felizes com a situação, não se importam com a situação ser desastrosa, quando na verdade o desastre do Brasil é o desastre de todos os brasileiros. O que eu quero dizer com isso? O primeiro passo seria garantir que o Executivo execute, o Legislativo legisle e o Judiciário julgue, com base na Constituição. O Judiciário não legisle, não julgue também com base nos achismos dos ministros do STF. E o Executivo também não faça conchavos, enfim, não faça alianças que não sejam para a execução de políticas públicas para o bem do país. Eu imaginaria que isso não é pedir demais, mas parece que no Brasil de hoje essa não é a prioridade. Porque uma vez que isso se estabeleça como uma prioridade, qualquer coisa que fuja disso, qualquer tentativa do Judiciário de legislar, do Legislativo de executar ou vice-versa, qualquer bagunça entre os dois, seria imediatamente repreendida pela população. Mas parece que não. Quando aqueles que olham e falam assim: ‘Não, isso aqui não está certo, mas atende ao que eu acredito, então pode continuar’. Foi o exemplo que nós vimos no último domingo, com as manifestações contrárias à anistia. As pessoas ali nem sabiam, especialmente os artistas, como e porque se posicionar contrário à anistia. Pegavam o microfone e diziam: ‘É pelas mulheres!’, ‘É pelas florestas!’, ‘É pelos animais!’. Ué, mas não era anistia?… E aí teve até numa capital do Nordeste do Brasil que as pessoas gritavam ‘Sem anestesia’. Ou seja, não sabiam porque estavam nas ruas, não sabiam o que é que estavam fazendo ali, e não sabiam também o impacto que isso tem para a nossa nação. Enquanto a ordem constitucional não for prioridade para todos os brasileiros, nós vamos ter esse atropelo.”

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Foto de Vandeck Santiago
Vandeck Santiago
Jornalista e escritor