Agora é pelo celular: a eleição do prefeito mais jovem da história de Nova York, Zohran Mamdani, consagra em um palco internacional o modelo de comunicação digital que o prefeito João Campos (PSB), do Recife, tornou referência no Brasil.
Com vídeos em plataformas mais acessadas pelos jovens, marcados por linguagem e postura multicultural, os dois conseguiram engajar públicos à margem da comunicação tradicional e pouco considerados pela política. E o formato ainda vem com a mensagem subreptícia de “diferenciar-se dos mesmos políticos de sempre”.
A comunicação do Mamdani é mais ativista, com uma pegada ideológica forte e mais apelos à transformação política. A de João Campos, mais focada na eficiência da gestão e sem apelos ideológicos. Faça-se a ressalva das diferenças dos contextos políticos, sociais, culturais e pessoais de cada um.
(Vídeo: Repost @guilhermeamado)
Mamdani é deputado estadual e tem uma militância que combina com seu discurso. Não vi em nossa imprensa menção ao fato de que ele fez greve de fome durante 15 dias com motoristas de táxi, em 2021 – e este fato que abriu o caminho para a ascensão de sua carreira. Os taxistas protestavam contra dívidas consideradas exorbitantes dos alvarás que tinham de pagar – a de um deles chegava a 750 mil dólares. (Vi isso em um vídeo de campanha dele, longo e delicioso, que parece tirado de filme. Confiram aqui: https://youtu.be/-VEuPsobr3Q)
Tanto João Campos quanto Mamdani entraram na política como newcomers, mas com um sólido lastro familiar. Mandani é filho de um renomado professor da Universidade de Columbia, Mahmood Mamdani, e de uma cineasta de filmes independentes premiados, Mira Nair, ambos imigrantes. Ou seja: noves fora o fato de ser de uma família de imigrantes, cresceu em um ambiente de classe média intelectualizada novaiorquina. João Campos é filho de Eduardo Campos e bisneto de Miguel Arraes. Ou seja: cresceu em um ambiente de protagonismo político nordestino e nacional.
Na comunicação de um e de outro, encontram-se os mesmos ingredientes da receita: informalidade, interação, humor, jovialidade, alto astral… E ambos apresentando-se com naturalidade nas interações de que participam (sem canastrice, que é o perigo de quem adota a mesma receita, porém não consegue mostrar-se natural no papel).
Este padrão de comunicação, que já se consolidou, vai tornar-se prática cada vez mais comum em nossa política – o que implica também em um “rejuvenescimento” das candidaturas, para enquadrar-se no formato.



