O Nordeste aparece em plano do governo federal como peça central na transição energética do país, uma das pautas em destaque na preparação para a COP30. A Região concentra hoje 78% da capacidade instalada de energia eólica e solar do país, e conta com a localização geográfica privilegiada dos seus estados. Possui as condições ideais para tornar-se o ‘motor’ da industrialização à base de energia renovável, diz Rafael Dubeux, secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda e coordenador do Novo Brasil – Plano de Transformação Ecológica (PTE), coordenado pelo Ministério da Fazenda e com participação de vários ministérios. Segundo ele, o potencial do Nordeste constitui-se em um estratégico fator de atração para as chamadas indústrias verdes, sobretudo para as que têm dificuldade de descarbonização, como a siderurgia, fertilizantes e químicos.
Um dos objetivos do PTE é tirar o Brasil do “modelo tradicional de crescimento”, aquele baseado na exportação de produtos primários e degradação ambiental. Em vez disso, conectar-se com a estratégia mundial focada na economia de baixo carbono, priorizando a inovação tecnológica, sustentabilidade e distribuição de renda.
Nesse ponto, Dubeux apresenta um exemplo conceituado para todo o Brasil, mas que diz respeito diretamente ao Nordeste, líder no campo da energia eólica e solar do país. “O Brasil não quer ser apenas importador de painéis solares e eletrolisadores para produzir aqui e exportar o insumo para uso em outros países. Ao contrário, queremos aproveitar a vantagem de ter um dos hidrogênios mais baratos do mundo para adensar a cadeia produtiva, fabricar painéis, turbinas e eletrolisadores e, em vez de exportar todo o hidrogênio, empregá-lo na produção de fertilizantes verdes, aço de baixo carbono e outros bens, alongando essa cadeia no país”, explica ele.
O PTE é um plano de metas interministerial, que vem sendo formulado pelo governo desde o início do mandato. Possui seis eixos temáticos, cada um deles feito em conjunto com a pasta envolvida, além de representantes do setor privado e entidades da sociedade civil. Todos os eixos são conectados à transição ambiental, e têm uma série de iniciativas previstas. “Este conjunto de ações tem no powershoring – a proposta de levar a produção para países com matriz energética limpa – um de seus eixos centrais para viabilizar uma agenda de baixo carbono intensiva em inovação, com a atração de investimento estrangeiro e de poupança externa, em complemento à poupança nacional, a fim de desenvolver a economia do Brasil e adensar tecnologicamente as cadeias produtivas”, afirma Dubeux.
A avaliação do Plano de Transformação Ecológica combina com a do Consórcio Nordeste (entidade formada pelos governos dos 9 estados nordestinos), que vê na Região “condições únicas para liderar a transição para uma economia de baixo carbono, com elevada disponibilidade de energia renovável a custos competitivos”.
RAFAEL DUBEUX É PERNAMBUCANO
Arquiteto do Plano de Transformação Ecológica do Brasil, Rafael Dubeux é pernambucano, do Recife. Hoje é um dos nomes em ascensão na equipe técnica do governo Lula. Além de secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda e coordenador do Plano, ele foi nomeado ano passado para o Conselho de Administração da Petrobrás, por indicação do ministro Fernando Haddad, que disse tê-lo designado para a função com o objetivo de colaborar com a agenda sustentável dentro da empresa. “Ele é uma pessoa técnica, que já passou por vários cargos públicos, é de carreira da AGU, está trabalhando nesse tema, é doutor nessa área. Ele vai lá para colaborar, vai lá para ajudar”, afirmou Haddad na ocasião da indicação, em março de 2024.
Dubeux trabalhou antes na Casa Civil e no Ministério da Ciência e Tecnologia. Em 2021, foi nomeado pelo prefeito João Campos (PSB) como secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Recife. Ele morava em Brasília e transferiu-se para o Recife. Em 2023, início do governo Lula, voltou para Brasília, convidado para o Ministério da Fazenda. Atualmente, tem viajado pelo país para falar sobre o Plano de Transformação Ecológica – suas falas nesta matéria, por exemplo, foram feitas em Fortaleza, onde participou do seminário “Como escalar e acelerar os investimentos sustentáveis no Nordeste: As oportunidades do Powershoring” (23/10), evento promovido pelo Consórcio Nordeste, BNB e Instituto Clima e Sociedade. Em vista dessas atividades, tornou-se presença frequente na imprensa regional e nacional.
Ele é formado em Direito pela UFPE e fez doutorado e mestrado pela UnB (enfocando o tema inovação em energia de baixo carbono). Foi pesquisador visitante na Universidade da Califórnia, Berkeley (UC Berkeley, 2013). É autor dos livros “Desenvolvimento e Mudança Climática” e “Inovação no Brasil e na Coreia do Sul”, publicados pela Editora Juruá.



