Política e economia de Pernambuco e do Nordeste

Política e economia de Pernambuco e do Nordeste

O dia em que o presidente Bolsonaro mandou uma repórter “calar a boca” e disse que ela prestava “um serviço porco” 

Ao ser entrevistado pela repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo na Região do Vale do Paraíba (SP), o então presidente Jair Bolsonaro irritou-se quando a profissional o questionou sobre o uso de máscara para proteção contra a Covid-19. Bolsonaro respondeu: “Eu chego como quiser, onde eu quiser. Eu cuido da minha vida”. Em seguida, de forma destemperada, ele tirou a máscara, atacou a Rede Globo com palavras de baixo calão e gritou para a jornalista: “Cala a boca! Vocês são uns canalhas! Vocês fazem um jornalismo canalha!”. Ao final de sua fala, afirmou: “Você tinha que ter vergonha na cara por prestar um serviço porco desse que você faz na Rede Globo”. Durante todo o tempo, Laurente Santos manteve-se com o microfone na posição da entrevista. O fato aconteceu em Guaratinguetá (SP), onde Bolsonaro foi participar de cerimônia de formatura de sargentos da Aeronáutica, em 21 de junho de 2021 – dias antes o Brasil havia atingido a marca de 500 mil mortes pela Covid-19. 

Jornalistas, políticos e personalidades solidarizaram-se com a repórter. O Jornal Nacional da TV Globo divulgou nota oficial da emissora, criticando o comportamento que chamou de “descontrolado” do presidente. “A Globo e a TV Vanguarda repudiam o tratamento dado pelo presidente à repórter Laurene Santos, que cumpria apenas o seu dever profissional. Não será com gritos nem intolerância que o presidente impedirá ou inibirá o trabalho da imprensa no Brasil. Esta, ao contrário dele, seguirá cumprindo o seu papel com serenidade. A Laurene Santos, a irrestrita solidariedade da Globo e da TV Vanguarda”, diz trecho do posicionamento.

Entre seus seguidores, o comportamento de Bolsonaro foi repercutido como sendo uma demonstração de firmeza do presidente. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL/SP) compartilhou em rede social o vídeo da entrevista, destacando que o presidente havia colocado a TV Globo “em seu devido lugar”

ATAQUES

Os ataques à imprensa eram comuns na época. Só em 2020, segundo estudo da organização não governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF), foram 580, feitos por Bolsonaro e pessoas próximas dele. A RSF aponta o deputado Eduardo Bolsonaro como o primeiro da lista, com 208 ataques. Em segundo lugar estava o vereador Carlos Bolsonaro (RJ), com 103 ataques, e em seguida o senador (RJ) Flávio Bolsonaro, com 69. 

O diretor da RSF na América Latina, Emmanuel Colombié, em entrevista à DW Brasil, disse em maio daquele ano que havia uma “estratégia estruturada” de ataques a jornalistas no Brasil, indo de Bolsonaro à sua base de apoiadores

Compartilhar: 

Foto de Vandeck Santiago
Vandeck Santiago
Jornalista e escritor
plugins premium WordPress