O relato a seguir é do professor Flávio Muniz, sobre os momentos em que foi comunicado da morte do seu filho, Lucas Kristen, de 24 anos, por Covid-19, em 13 de julho de 2021. (O trecho faz parte de matéria do jornalista Inácio França, que você pode ler aqui: “Bolsonaro ainda espera sua sentença, mas eu já estou condenado pelo resto da vida” – Marco Zero Conteúdo Foi publicada no Marco Zero, em 9 de setembro deste ano, durante julgamento em que Bolsonaro acabou condenado a 27 anos e 3 meses, por participação em uma trama golpista.)
“ACHO QUE O LUCAS NÃO RESISTIU”
“Eram 10h55 da manhã, o telefone toca. E eu conhecia aquele tipo de ligação, porque era muito comum no hospital a gente ouvir isso. Os médicos ligarem pra família… a assistente social só ligou e falou assim pra mim: ‘Flávio – ela já me conhecia, todo mundo lá me conhecia, já sabiam da minha história – a doutora pede pra você vir aqui urgentemente no hospital, pra resolver um assunto com você’. Aí, na hora que ela falou assim, eu só falei ‘ah, tá’.
Desliguei o telefone… Lógico, o chão fugiu dos meus pés na hora. Chamei minha esposa, disse: ‘Se arruma, nós vamos pro hospital. Acho que o Lucas não resistiu’. Ela falou: ‘Não, Flávio, ele tava bom ontem, ela falou que ele ia andar hoje’. Eu falei: ‘Não, não, não é isso’. Não me lembro de como fiz essa viagem de casa até o hospital. Na hora que eu cheguei no hospital, a assistente social não me falou nada, ela só segurou no meu braço, minha esposa começou a chorar, aí fomos indo.
Nós subimos, foi no terceiro andar da UTI, fomos lá, chegamos no terceiro andar, fiquei na salinha de espera da UTI, eu já tava, assim, os olhos cheios d’água, já chorando. Na hora que a médica chega, ela me olha, e ela ajoelha no chão, eu tô chorando, eu ajoelho junto com ela, ela fala pra mim: ‘Eu fiz o que eu pude, eu fiz o que eu pude…’
Nem quis saber o que tinha acontecido de fato na hora. Eu falei: ‘Só quero ir lá ver ele. Eu só quero ir lá ver ele’. Aí eles me deixaram, eu fui lá, cheguei lá, eu abracei ele, ele tava enroladinho no tecido, no lençol da cama, como eles arrumam o corpo, rosto quietinho, e eu abracei ele. Fiquei uns cinco, dez minutos ali, falando tudo com ele, sabe, eu acho que muita gente ora a Deus, aquele dia eu orei ao meu filho, pra ver se ele me ouvia. Foi um momento muito especial pra mim”.