O discurso do deputado federal Nikolas Ferreira (PL/MG) na manifestação de anistia para os golpistas de 8/01 flerta com a autodestruição.
Chega em determinado momento a ser chulo até para os padrões de chulice da militância mais radicalizada do bolsonarismo.
É quando, depois de referir-se ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, ele diz e repete a expressão: “Se lasc@u”.
Dói nos meus ouvidos, e creio que também no de vocês, mas, em nome da precisão histórica, permitam-me repetir o trecho:
“Ditadores de toga, principalmente como o Alexandre de Moraes, se utilizaram do dia 8 para nos amedrontar. Se lasc@u! Olha a gente aqui, essa é a resposta para você, covarde! E digo mais, fizeram de tudo para poder massacrar a maior liderança política deste país que é o Bolsonaro. Digo novamente, se lasc@u!”.
Prosseguiu no mesmo tom ao referir-se ao presidente do STF, Luís Roberto Barroso:
“Para o debochado do ministro Barroso, que falou ‘perdeu, mané’. Primeiro, isso é uma fala de bandido quando vai roubar alguém. O que você está querendo dizer com isso Barroso? Que nas eleições de 2022 nós fomos assaltados?”
A um ministro do STF, ele chama de “covarde” e diz “se lasc@u”. A outro, presidente do Supremo, o deputado chama de “debochado” e compara fala dele (do presidente) a de um bandido.
Com todo respeito ao nobre deputado mineiro, com o respeito que ele não teve com os nobres ministros, é preciso que se diga: este é um discurso de sarjeta. Enlameia quem o pronuncia. Não combina com um homem público.
Alguém que ame o deputado Nikolas, que tenha a compreensão do que esse tipo de ato significa, das implicações que pode ter, precisa ir até ele e dizer isso.
Nenhum problema que ele continue produzindo os vídeos, que continue fustigando o governo federal, que trate os golpistas do 8/01 como se apenas baderneiros fossem. Faz parte da sua atuação política.
Mas o exagero no baixo nível só leva à autodestruição. Você vai cometendo um exagero atrás do outro, acaba perdendo a noção de limites e quando menos espera apertou o botão onde estava escrito “autodestruir”.
Há na história um caso clássico de um personagem que fez do exagero seu modelo de atuação. Creio que ajudaria o deputado Nikolas conhecer a história dele. Era um talento precoce, que se tornou o mais jovem juiz do seu estado, elegeu-se senador e por alguns anos ocupou manchetes da mídia quase todos os dias. Chamava-se Joseph McCarthy, dos EUA.
Ninguém escalou mais o exagero do que ele. Quanto mais escalava, mais se autodestruía. De uma forma que nem os adversários queriam confrontá-lo, por temor de que acabassem sendo também enlameados.
Uma vez pediram ao presidente da época (1953-1961), Dwight Eisenhower, que agisse contra ele. O presidente respondeu: “Não vou me meter na sarjeta com esse sujeito”.
Já quando o ostracismo começou a bater à sua porta, McCarthy fez o que seria sua última investida contra um novo alvo, com acusações sem provas, como era do seu feitio. Nada se comprovou.
E, em uma das audiências, o advogado de defesa dos seus alvos, Joseph Welch, lhe fez uma fez uma pergunta que muitos julgam ter sido o golpe de misericórdia.
“Sr. McCarthy”, perguntou o advogado, “o Sr. não sabe o que é decência?”.
Depois disso, McCarthy saiu de cena e nunca mais voltou. Esquecido, afogando mágoas na bebida, morreu quando tinha apenas 49 anos, em 1957.
Para a posteridade, um historiador o definiu assim: “Oportunista, ambicioso e inescrupuloso, que não se importava com a verdade”.